Título: Indústria, frustrada, investe menos que o previsto
Autor: Luciana Rodrigues
Fonte: O Globo, 10/11/2006, Economia, p. 29

Segundo pesquisa da CNI, 64% dos empresários adiaram compra de bens de capital este ano

RIO e SÃO PAULO. O fraco desempenho da economia tem frustrado o ânimo da indústria este ano. Após o IBGE divulgar queda de 1,4% na produção industrial em setembro, a sondagem da Confederação Nacional da indústria (CNI) revelou, ontem, que cerca de 64% dos empresários investiram menos que o planejado para 2006. O grupo se junta aos 15% que já haviam cancelado todas as expansões e compras de máquinas e equipamentos.

De acordo com a pesquisa, 43% fizeram apenas parcialmente os investimentos previstos e 21% tiveram de cancelar ou adiar o cronograma. Flávio Castelo Branco, gerente executivo de política econômica da CNI, ressalta que a maioria das indústrias (80%) acredita ter capacidade produtiva suficiente para atender à demanda do próximo ano.

- A frustração do crescimento se traduz na frustração do investimento. Em 2007, as empresas estão pouco propensas a aumentar as compras de bens de capital. Mais da metade das pequenas e grandes empresas não se sente segura quanto ao crescimento do consumo em 2007 - afirmou Castelo Branco.

O estudo teve participação de 1.581 empresários, sendo 1.366 de pequenas e médias indústrias e outros 215 de empresas de grande porte. A forte carga tributária e os juros altos ainda impactaram as companhias de menor porte: apenas um terço realizou os investimentos conforme o planejado. Entre as grandes, 51% cumpriram o cronograma.

- Ao olhar por grupo de atividades, o dólar barato continua agredindo setores altamente dependentes da exportação, como calçados, madeira, borracha e têxtil - disse o economista.

Vagas na indústria paulista crescem 0,2% em outubro

No total, sete setores esperam reduzir suas compras de máquinas e equipamentos e 13 pretendem aumentá-las. O destaque vai para segmentos de álcool, equipamentos de transporte, refino de petróleo e produtos farmacêuticos, que se mostram mais propensos a elevar os investimentos.

Em outubro, as usinas de açúcar e álcool e as indústrias de refino de petróleo ajudaram a indústria paulista a registrar alta de 0,2% no número de vagas, em relação a setembro. Foram abertos quatro mil postos de trabalho no mês passado, segundo a Federação das indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). No acumulado do ano, o aumento foi de 3,97%, o que representa 82 mil novos postos de trabalho. A Fiesp projeta que a alta do emprego industrial em São Paulo não ultrapassará 2%:

- Esse foi o último mês de crescimento. A partir de agora, teremos demissões - afirmou Paulo Francini, economista da federação.