Título: Mercadante defende reforma da Previdência
Autor: Adriana Vasconcelos
Fonte: O Globo, 11/11/2006, O País, p. 8

Senador diz que tema precisa ser enfrentado: "Não podemos continuar com uma média de aposentadoria de 53 anos"

BRASÍLIA. Uma nova reforma da Previdência foi defendida ontem, pela primeira vez desde a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por um representante do PT. Desligado definitivamente da liderança do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP) sentiu-se à vontade para expor suas divergências em relação à política econômica do primeiro mandato de Lula.

Da tribuna do Senado, Mercadante cobrou mudanças nos rumos da economia. Propôs a redução da taxa de juros e um ajuste fiscal rigoroso, que inclui a retomada das reformas. Para crescer e garantir o aumento do investimento público, Mercadante apontou como fundamental que o governo avance na reforma da Previdência. Segundo ele, não se pode continuar com uma média de aposentadoria de 53 anos:

- Esse é um tema muito difícil socialmente e muito delicado politicamente, num país tão desigual como o nosso. Mas, se não enfrentarmos a questão da Previdência Social, inclusive a sustentabilidade, não teremos capacidade de alavancar o investimento. Não podemos continuar com uma média de aposentadoria no país de 53 anos. A longevidade está aumentando. A população cada vez vive mais. Infelizmente, não podemos seguir nesse caminho.

Ele citou, como outro fator essencial para o desenvolvimento, o corte de gastos:

- Eu diria que um novo desenvolvimentismo exige, neste momento, o mesmo compromisso histórico com o investimento que tivemos nos grandes momentos da história econômica do país. O foco da política econômica, da política orçamentária é o investimento. Como aumentar a taxa de investimento? Cortando gastos de custeio, reduzindo os gastos correntes, contendo essa expansão dos gastos correntes, porque o investimento virou a variável de ajuste do Orçamento.

As mudanças no modelo econômico, segundo Mercadante, não são para garantir superávit primário maior, mas para assegurar o aumento do investimento público. Para ele, a abertura de um canal de diálogo com a oposição será essencial para o presidente fazer o país crescer ao menos 5% ao ano.

Na segunda-feira, em conversa de quase duas horas, Mercadante - que perdeu prestígio no PT e no governo Lula depois de seu assessor de campanha pelo governo de São Paulo ser envolvido no escândalo da compra do dossiê contra tucanos por petistas - acertou com Lula que não reassumiria o posto de líder do governo no Senado.

- Considero que o maior desafio do novo governo do presidente Lula e do Brasil é constituir um pacto pelo crescimento econômico. O governo definiu que o seu eixo será desenvolvimento econômico, inclusão social e educação de qualidade, mas não haverá desenvolvimento com inclusão social e educação de qualidade sem a força do crescimento econômico.

O senador disse que a política econômica do primeiro mandato foi vitoriosa, mas não pode continuar como está:

- Sou contra o continuísmo. A política econômica que tivemos nesse período foi uma de transição, uma política que cumpriu seu papel, estabilizou a economia. Mas não vai permitir o crescimento de 5% ao ano. Não adianta apenas aumentarmos o superávit primário, fazendo ajuste fiscal e buscando combinar a política monetária com a política fiscal que aí está.

O ex-líder fez um alerta ainda sobre a pressão que o governo vem sofrendo por setores do PT para que adotar como modelo o que classifica de "velho desenvolvimentismo" - fórmula que poderia levar o país a crescer, a partir da simples redução da taxa de juros e do aumento do gasto público:

- Esse caminho leva a uma bolha de crescimento, seguida por pressão inflacionária e também deterioração das finanças públicas, obrigando o governo a um ajuste fiscal ainda mais severo. O caminho que proponho, seguramente, não é o mais fácil, nem para o governo, nem para o Senado, mas é o mais sólido, o mais consistente, o mais promissor. O caminho para o pacto do crescimento exigirá, sim, sacrifícios, especialmente do Estado, mas trará resultados.

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