Título: Lula: 'Corte de gastos é discurso já meio batido'
Autor: Cristiane Jungblut
Fonte: O Globo, 11/11/2006, O País, p. 9

Horas depois de Mercadante propor redução de despesas, presidente diz que "tem pouco onde cortar"

BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou ontem os defensores de corte de gastos como solução para promover o crescimento e antecipou que anunciará em breve medidas para "destravar o país". Em entrevista no Palácio do Planalto, poucas horas depois o senador petista Aloizio Mercadante defender o corte de gastos como fundamental para garantir o desenvolvimento, Lula disse que há pouco espaço para reduzir despesas públicas.

Lula afirmou que estuda medidas para desonerar a economia, com ações na área fiscal, e para aumentar a capacidade de investimento, inclusive de estados e municípios.

Polícia econômica não será mudada, mas aperfeiçoada

Pelo segundo dia consecutivo, o presidente disse que a essência da política econômica não será mudada, mas sim aperfeiçoada. Mudanças na economia também foram defendidas por Mercadante, em seu discurso no Senado.

- O corte de gastos é um discurso já meio batido, porque todo mundo fala em corte de gastos, todo mundo fala. Acontece que tem pouco onde cortar. O que temos que saber é que, em vez de a gente ficar falando apenas em cortar, temos que falar em como fazer este país produzir. É disso que precisamos - disse Lula.

Mais cedo, Mercadante dissera que era preciso parar de se fixar na produção do superávit fiscal, que ocorre por meio de forte controle dos gastos. Horas depois, o presidente iniciou a sua entrevista respondendo a perguntas sobre o pacote de medidas que anunciará para acelerar obras de infra-estrutura e facilitar o investimento:

- Neste momento, estou preocupado em aprofundar durante todo este mês de novembro os investimentos que precisamos fazer, o processo de desoneração que precisamos fazer, porque quero começar o ano com as soluções prontas e as coisas funcionando bem. Precisamos destravar o país para que ele cresça.

Mas o presidente foi enfático ao afirmar que manterá a responsabilidade fiscal na condução da economia.

- Não precisa mudar a política econômica na sua essência. O que ela tem é que ser aperfeiçoada, aprimorada. Vou repetir: não abriremos mão da responsabilidade econômica e da responsabilidade fiscal. Até porque, se agirmos de forma irresponsável, aquilo que a gente pensa que vai ser um sucesso pode ser um fracasso. Vamos crescer com responsabilidade. Vamos continuar controlando a inflação, vamos manter a responsabilidade fiscal, porque o Brasil precisa arcar com os seus compromissos - disse Lula: - É essa seriedade que vai nos dar condições de ter um ciclo de crescimento.

Ao ser perguntado sobre as medidas que deverá anunciar em breve, Lula disse que União, estados e municípios estão com dificuldades de investimentos.

- Hoje, a capacidade de investimento das prefeituras é muito pouca, dos governos estaduais é muito pouca, da União é muito pouca. Estamos trabalhando a hipótese de encontrar o caminho pelo qual vamos dotar estados, municípios e a União com o mínimo de capacidade de investimento - disse.

Lula rebate críticas à política econômica

Numa reação àqueles que criticam a política econômica do governo, Lula avisou:

- Pode estar certo de que vamos fazer as coisas da forma que sabemos fazer. Elas vão acontecer. Aqueles que não acreditam, esperem para ver. O Brasil vai crescer.

Lula tem conversado com vários governadores sobre a necessidade de a União ajudar os estados a promover investimentos e a acelerar obras. Segundo um governador, Lula acredita que os estados "aquecidos" economicamente são importantes para alcançar a meta de 5% em 2007.

Inspirado, na cerimônia, Lula criticou os países ricos, citando os EUA, e cobrou que eles adotem ações que preservem o meio ambiente. Para Lula, os países ricos correm o risco de "criar a política do esperto" ao financiarem países emergentes que preservam o meio ambiente, enquanto em seus territórios continuam devastando.