Título: Brasil terá um comunista no poder, mas por 24 horas
Autor: Isabel Braga, Cristiane Jungblut e Bernardo Mello
Fonte: O Globo, 11/11/2006, O País, p. 12

Aldo substituirá Lula e fará homenagem a maratonista

BRASÍLIA e RIO. O Brasil terá, por pouco mais de 24h, seu primeiro presidente comunista. Aldo Rebelo (PCdoB-SP), presidente da Câmara, receberá amanhã o cargo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que viajará para Ciudad Guayana, na Venezuela, onde tem encontro com o presidente Hugo Chávez. Aldo permanecerá, durante a maior parte de sua interinidade, em São Paulo. Usará, no entanto, o Palácio do Planalto para despachar e comandar a cerimônia de homenagem ao atleta Marilson Gomes dos Santos, vencedor da Maratona de Nova York no último domingo.

Segundo os assessores, a ordem é discrição total, sem nem mesmo sentar-se na cadeira de presidente. Mas não se furtará a receber os deputados que forem visitá-lo. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), quando assumiu a Presidência durante a campanha, recebeu no Planalto senadores.

José Alencar está de licença para tratamento nos EUA

Aldo assume o cargo porque o vice-presidente José Alencar está de licença para tratamento de saúde nos Estados Unidos. O deputado preferiu manter a participação no ciclo de debates sobre políticas públicas, promovido pela Fundação Mário Covas, em São Paulo. Por isso, depois da transmissão do cargo, no aeroporto de Congonhas, prevista para as 17h de domingo, permanecerá em São Paulo até a tarde de segunda-feira.

O alagoano Aldo Rebelo, de 50 anos, começou a se interessar por política nos anos 70. Durante a ditadura militar, foi integrante da Ação Popular (AP) e logo depois entrou para o PCdoB, que atuava na clandestinidade. Foi presidente da União Nacional dos Estudantes (Une) em 1980 e chegou a se filiar ao PMDB, concorrendo pela legenda para deputado federal, em 1982. Mas só conseguiu eleger-se, já pelo PCdoB, vereador por São Paulo em 1988.

O comunista, que adora a História do Brasil, tem um projeto restringindo o uso de expressões estrangeiras. Reeleito para o quinto mandato, foi o primeiro líder do governo Lula e ministro de Coordenação Política. Chegou à presidência da Câmara em 2005, depois que Severino Cavalcanti renunciou ao mandato.

Ontem, diante de uma platéia repleta de militares fardados no Rio, na Escola de Guerra Naval, Aldo empolgou cerca de 500 oficiais ao cobrar o aumento das verbas para os militares no Orçamento da União. Segundo Aldo, o governo usa as baixas taxas de crescimento para justificar a penúria da caserna.

- É uma equação difícil de entender. Não é preciso esperar que o bolo cresça para reparti-lo.

Aldo foi enigmático sobre suas pretensões de concorrer à reeleição para a presidência da Câmara:

- Talvez sim, talvez não. O Caetano Veloso de vez em quando responde assim. Como o admiro muito, respondo como ele.