Título: Dossiê: PF deve ouvir tesoureiro de Mercadante
Autor: Bernardo de la Peña e Jailton de Carvalho
Fonte: O Globo, 11/11/2006, O País, p. 14

Se isso não ajudar a esclarecer origem do dinheiro, chefe das finanças da campanha de Lula também será ouvido

BRASÍLIA. Os responsáveis na Polícia Federal pela investigação sobre a origem do R$1,7 milhão que seria usado na compra do dossiê contra tucanos querem ouvir os responsáveis pelas finanças do PT paulista durante as eleições. Os policiais pretendem intimar o tesoureiro da campanha do senador petista Aloizio Mercadante (SP) ao governo paulista no inquérito que investiga o caso. A parte financeira da campanha de Mercadante foi conduzida por José Baccarin. Se não conseguir avançar a partir do depoimento do tesoureiro do PT paulista, a PF também poderá ouvir o depoimento do tesoureiro da campanha pela reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, José de Filipi.

A PF suspeita que parte do dinheiro apreendido com os petistas Gedimar Passos e Valdebran Padilha, no hotel Ibis Congonhas, em São Paulo, pode ter saído da campanha eleitoral porque o dossiê teria objetivos eleitorais. De acordo com a sua prestação de contas ao Tribunal Superior Eleitoral, a campanha de Mercadante arrecadou R$11,6 milhões.

Mais prazo para a investigação

Um ex-assessor de Mercadante, Hamilton Lacerda, está envolvido no escândalo do dossiê. Lacerda é suspeito de ser o responsável por entregar o dinheiro no hotel para os petistas Gedimar e Valdebran, que acabaram presos em flagrante pela PF. Os delegados responsáveis pela investigação acham que está na campanha de Mercadante a chave para descobrir a origem do dinheiro do dossiê.

Mesmo depois de preso pela PF, Gedimar Passos manteve contatos por celular com outros três envolvidos na tentativa de compra do dossiê, inclusive Hamilton Lacerda.

Ontem, a Polícia Federal de Mato Grosso pediu à Justiça Federal mais prazo para concluir o inquérito que investiga se o empresário Abel Pereira teria funcionado como intermediário entre a Planam e o Ministério da Saúde durante a gestão do tucano Barjas Negri. A denúncia feita pelo empresário Luiz Antônio Vedoin, chefe da máfia dos sanguessugas, é o principal ponto do dossiê que seria comprado pelos petistas.

Enquanto a PF tenta avançar nas investigações, o vice-presidente da CPI dos Sanguessugas, Raul Jungmann (PPS-PE), e o sub-relator da comissão Fernando Gabeira (PV-RJ) acertaram ontem que vão fazer uma tentativa de prorrogar os trabalhos da comissão até janeiro. Na segunda-feira, eles devem reunir os integrantes de seus partidos e do PSOL para propor a prorrogação.

A decisão é uma resposta à declaração do relator da CPI, senador Amir Lando (PMDB-RO), de que gostaria de ver o relatório da comissão aprovado até 13 de dezembro. Na prática, isso significa que o trabalho de investigação teria de terminar antes do fim do mês, sem que a comissão tenha avançado no que diz respeito à apuração sobre a compra do dossiê e sobre a participação de representantes do Executivo no esquema de venda de ambulâncias superfaturadas. A proposta de prorrogação deve ter o apoio do PFL.

- O foco mais importante é fazer toda investigação para que o Parlamento possa colaborar com a melhoria da qualidade dos controles do governo. Se isso não foi feito, temos de prorrogar - disse o líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia (RJ).