Título: IBGE: inflação de 2006 será a menor em 8 anos
Autor: Luciana Rodrigues
Fonte: O Globo, 11/11/2006, Economia, p. 49

Alimentos fazem IPCA subir para 0,33% em outubro, mas taxa anual fica em 3,26%, bem abaixo da meta do governo

A inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,33% em outubro, um pouco acima do 0,21% registrado em setembro. Mas, a dois meses do fim do ano, o IBGE já estima que o índice, usado nas metas de inflação do governo, terá a menor variação anual desde 1998, ou seja, desde antes da mudança no regime cambial brasileiro. De janeiro a outubro, o IPCA subiu 2,33%, e os economistas prevêem uma alta próxima de 3% no ano. Em 1998, o índice fora de apenas 1,65%.

- O resultado deste ano provavelmente será o menor desde 1998. É bom lembrar que, naquele ano, o regime era de câmbio fixo, não havia ainda o sistema de metas de inflação e foi um ano de recessão, com vários resultados mensais negativos no IPCA - afirma Eulina Nunes, coordenadora do Sistema de Índice de Preços do IBGE.

Índice em 12 meses é pouco superior ao dos EUA

Em 1998, a economia brasileira cresceu só 0,13%. Mas, este ano, a previsão dos analistas é de expansão do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de riquezas produzidas no país) perto de 3%. Para Eulina, o câmbio favorável (o dólar já caiu 7,39% no ano) e os reajustes menores das tarifas públicas explicam a baixa inflação:

- As tarifas pressionaram muito em anos anteriores. Mas, agora, houve até redução, como a da Light, no Rio.

Em 12 meses, até outubro, a inflação é de apenas 3,26% (a meta do governo para o ano é de 4,5%) - pouco acima da variação de preços nos EUA de setembro de 2005 a setembro deste ano, de 2,1%.

Influenciados pelo câmbio, os alimentos ajudaram a segurar a inflação e reduziram em 0,21 ponto percentual o IPCA acumulado do ano. Mas, em outubro, os preços de alimentos subiram 0,88% e explicam mais da metade da alta do índice. A entressafra da carne e a alta do frango, com o produtor recuperando seus preços após a crise da gripe aviária, foram os principais responsáveis.

E o consumidor pode enfrentar novas altas nos próximos meses, dessa vez dos preços de derivados de soja, milho e trigo, que têm subido no atacado mas cujas pressões ainda não chegaram integralmente ao varejo, lembra o economista Elson Teles, da corretora Concórdia.

Marco Antônio Franklin, sócio da Plenus Gestão de Recursos, explica que houve quebra da safra de trigo da Austrália, maior produtor mundial, o que levou os EUA a aumentarem sua produção do grão, reduzindo a área da soja. E o milho já estava em alta no mercado internacional porque é usado para produzir etanol. O resultado foi um aumento generalizado nos grãos.

Essa alta já aparece no Índice Geral de Preços do Mercado, que inclui a inflação no atacado. Na primeira prévia de novembro, o IGP-M subiu 0,71%, contra 0,19% em outubro, informou a Fundação Getulio Vargas (FGV).