Título: Presos por corrupção, servidores do TCU sequer foram denunciados
Autor: Jailton de Carvalho
Fonte: O Globo, 12/11/2006, O País, p. 3
Dois anos após Operação Sentinela, Ministério Público não decidiu o que fazer
BRASÍLIA. Apontada como uma das mais emblemáticas investigações da Polícia Federal, a Operação Sentinela corre o risco de se transformar num dos mais retumbantes fracassos de apuração criminal. A ação da PF atingiu quatro altos funcionários do Tribunal de Contas da União (TCU), o guardião das contas federais, e a Confederal, empresa do deputado Eunício de Oliveira (PMDB-CE) - licenciado da direção da companhia. Até hoje, no entanto, passados dois anos das primeiras prisões, o procurador da República em Brasília Valtan Furtado ainda nem decidiu se denuncia as fraudes à Justiça Federal.
Em dezembro de 2004, depois de um ano de investigação silenciosa, a PF prendeu dez pessoas acusadas de fraudar licitações para facilitar a contratação de empresas de segurança, entre elas a Confederal, para prestar serviços ao tribunal.
Servidores foram soltos e voltaram ao trabalho
Entre os presos estavam os funcionários do TCU Antonio José Ferreira da Trindade (secretário-geral de Administração), Leila Fonseca dos Santos Vasconcelos Ferreira (secretária de Controle Interno), Vera Lúcia de Pinho Borges (presidente da Comissão Permanente de Licitação) e Fernando César Masera Almeida (chefe da segurança).
A operação teve forte repercussão. Era a primeira vez que a PF prendia altos funcionários do TCU, o órgão encarregado de fiscalizar a correta aplicação das verbas federais. As investigações também deixaram em situação delicada o então ministro das Comunicações, Eunício Oliveira, dono da Confederal, empresa que estava no centro da investigação. Mesmo com todo esse alarde, o caso empacou nas mãos do procurador Valtan Furtado. Diante da indefinição, os funcionários do TCU saíram da cadeia e retornaram ao trabalho. Um deles, José Trindade, já está aposentado com vencimentos integrais.
Procurado pelo GLOBO, Furtado disse, por meio da assessoria de imprensa do Ministério Público, que só se manifestará após receber de volta os autos do inquérito. Os documentos estariam, agora, com o TCU. Uma comissão de sindicância do TCU pediu uma cópia do material para instruir uma investigação interna que também não apresentou resultados práticos.
Operação Sucuri também não teve desdobramentos
A Operação Sucuri, sobre o envolvimento de policiais com o contrabando na fronteira com o Paraguai, também não teve os desdobramentos esperados pela PF. A operação foi lançada em 2003 como ponto de partida para as demais investigações que a PF viria a fazer sobre esferas da administração pública. Foram presas 39 pessoas, a maioria policias federais. Mas até hoje a Justiça Federal de Foz do Iguaçu não concluiu o processo contra os acusados. Os policias deixaram a cadeia e voltaram ao trabalho.
- Eles estão lá ganhando salários normalmente, como se nada tivesse acontecido - reclama um delegado da cúpula da PF.