Título: A intensa troca de ligações entre os 'aloprados'
Autor: Bernardo de la Peña e Francisco Leali
Fonte: O Globo, 12/11/2006, O País, p. 10

Em apenas dois dias, na véspera e no dia da prisão pela compra do dossiê, petistas trocaram 148 telefonemas

BRaSÍLIa. Cinco dos sete envolvidos na operação de compra do dossiê do empresário Luiz antônio Vedoin contra tucanos trocaram 148 telefonemas apenas nos dias 14 e 15 de setembro, no auge do escândalo. apenas no dia 14, véspera da prisão dos petistas Gedimar Passos e Valdebran Padilha com o R$1,7 milhão, no hotel Ibis, em São Paulo, há registro de 82 ligações. Os dados fazem parte da quebra de sigilo dos envolvidos feita pela Polícia Federal e remetida à CPI dos Sanguessugas.

No dia 15 de setembro, com Gedimar e Valdebran já detidos pela Polícia Federal, os extratos telefônicos registram 66 ligações. Este número inclui ainda ligações do Palácio do Planalto para três dos sete investigados no caso: o ex-chefe da inteligência do PT Jorge Lorenzetti, seu subordinado na operação, Osvaldo Bargas, e o ex-assessor especial da Presidência da República Freud Godoy.

Planalto ligou para Lorenzetti

Enquanto Gedimar e Valdebran prestavam depoimento na PF em São Paulo, Lorenzetti recebeu duas ligações do Planalto, Freud 14 e Bargas outras 14. O chefe de gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gilberto Carvalho, já admitiu que naquele dia procurou Lorenzetti para obter informações sobre as prisões em São Paulo. Gedimar, mesmo sob custódia, também conversou pelo telefone com Lorenzetti, Hamilton Lacerda - este o ex-assessor do senador aloizio Mercadante apontado como o responsável por levar o dinheiro ao hotel - e com um telefone celular registrado em nome do comitê eleitoral da campanha do presidente Lula.

Gedimar foi preso na madrugada do dia 15. No mesmo dia, entre 8h17m e 8h43m, Lorenzetti fez 11 ligações para o celular de Gedimar. Segundo os extratos telefônicos, referentes à quebra do sigilo, as ligações duraram em média 30 segundos, o que indica que o petista pode não ter conseguido contato com Gedimar, que já estava preso na PF.

"Há elementos suficientes para pedir o indiciamento"

Para os integrantes da CPI dos Sanguessugas, já existem elementos suficientes para que a Polícia Federal indicie os envolvidos no caso em seu relatório final. O presidente da comissão, deputado antônio Carlos Biscaia (PT-RJ), diz acreditar que a PF já tem dados suficientes para responsabilizar Lorenzetti, Bargas, Lacerda e o ex-diretor do Banco do Brasil Expedito Veloso, também investigado. Independentemente da decisão da PF, Biscaia já disse que a CPI deve também pedir o indiciamento desses quatro. O vice-presidente da comissão, deputado Raul Jungmann (PPS-PE), concorda:

- Pelo que se sabe, há elementos mais do que suficientes para pedir o indiciamento deles - afirmou Jungmann, ao saber da quantidade de ligações trocadas entre eles.

- a intensidade de telefonemas nos dias críticos identifica claramente a atuação de uma organização criminosa para fraudar a vontade popular. Este é o aspecto mais horrendo deste caso - conclui o deputado.

a quebra do sigilo telefônico dos envolvidos mostra que no dia 14, enquanto os petistas acertavam o pagamento para a família Vedoin pela papelada, Gedimar manteve contato com Lorenzetti, Hamilton e Expedito. Só de um dos celulares de Lorenzetti, apontado pela PF como o coordenador da operação, partiram 18 ligações para o celular de Gedimar, que naquele momento se encontrava no hotel Ibis com Valdebran aguardando pelo envio dos documentos de Cuiabá.

a primeira ligação de Lorenzetti foi feita às 10h44m, e a última, às 23h53m daquele dia. Já Lacerda ligou para os telefones de Lorenzetti 11 vezes entre 15h37m e 23h55m. No dia 14, não há registros de ligações do Palácio do Planalto para nenhum dos envolvidos, incluindo Freud Godoy.