Título: 'Soubemos que no Nordeste é mais fácil'
Autor: Adauri Antunes Barbosa
Fonte: O Globo, 12/11/2006, O País, p. 18

TERESINA e REGENERAÇÃO (PI). Grávida de sete meses, Maria Rejane da Silva, de 17 anos, tentou com o marido, Francisco das Chagas Sena Rosa, levar na capital federal uma vida melhor que a de sua família de trabalhadores rurais. No ano e meio em que ficou em Brasília, conseguiu apenas um trabalho, sem remuneração fixa, como babá na casa de uma tia, em Sobradinho.

- Mal conseguia sair de casa. Meu marido não conseguiu emprego. soubemos que no Nordeste é mais fácil receber Bolsa Família e arrumar tempo para conseguir emprego - contou.

Com a possibilidade de ter uma renda mínima até arranjar emprego, Maria Rejane e Francisco voltaram para Teresina. Moram, com um sobrinho de 5 anos, numa casa de taipa em Cajazeiras, zona rural, a 25 quilômetros do Centro. É a casa da sogra, a dona de casa Antônia Maria Silva Rosa, de 44 anos, que se cadastrou no Bolsa Família, assim como o casal, para ganharem R$95 mensais.

Além do atrativo do benefício, Maria Rejane diz que não poderia ficar mesmo em Brasília porque na escola em que cursava a 6ª série do ensino fundamental colegas consumiam drogas dentro das salas de aula.

- A cidade é violenta. Eu temia estupros quando voltava para casa à noite - contou ela, satisfeita porque o marido conseguiu emprego de R$150 por quinzena como operário de uma usina de produção de açúcar e álcool, perto de onde moram.

Empresas recém-instaladas oferecem emprego formal

No Piauí, o principal fenômeno é o retorno dos chefes de família após o crescimento da economia no Nordeste, com o aumento da oferta de empregos formais. Grandes empresas, como Vale do Rio Doce, Gerdau, Companhia Siderúrgica Nacional, Bunge, Cosima, Brasil Edodiesel, e fazendas de plantações de soja de gaúchos, paulistas e paranaenses se estabeleceram no estado e oferecem empregos formais, que não existiam no campo piauiense.

Em Regeneração, a 147 km de Teresina, o cozinheiro Raimundo da Cruz Pereira conseguiu emprego como cozinheiro na Fazenda Chapada Grande, de empresários de Ribeirão Preto (SP), que plantam soja, milho e eucalipto para carvão vegetal usado na produção de ferro-gusa para a siderúrgica Margusa, do Grupo Gerdau. Ganha R$450 mensais em seu primeiro emprego formal no Piauí, de onde saiu para trabalhar por quatro anos e meio em São Paulo, onde foi cozinheiro, pedreiro e vigia:

- Ganho um salário que também ganhava em São Paulo. Antes, no Piauí, não tinha emprego com salário, só trabalho na roça. Agora a gente ganha salário e fica mais tranqüilo ao lado da família - diz Raimundo.

Sebastião Brandão Sobrinho, de 26 anos, estava trabalhando no corte de cana-de-açúcar em Ituverava, em São Paulo, há dois anos. Voltou há quatro meses para Regeneração, onde trabalha há três meses na produção de carvão vegetal, ganhando R$380 mensais.

- Voltei para viver com minha família no Piauí, onde é mais seguro e de onde saí porque não tinha emprego - conta.