Título: Especialistas defendem crescimento econômico e melhoria nas escolas
Autor: Bruno Rosa
Fonte: O Globo, 12/11/2006, Economia, p. 31

Alunos ricos e pobres devem trocar experiências dentro da sala de aula

O crescimento sustentável da economia e a mudança no sistema educacional baseada na troca de culturas entre os alunos pobres e ricos dentro das salas de aula são algumas das soluções apontadas por Especialistas do mercado de trabalho para reduzir o hiato entre as classes sociais. Na opinião de Carlos Alberto Ramos, da Universidade de Brasília (UnB), é preciso aumentar o investimento nas escolas públicas. Outra alternativa, e mais importante, aponta o economista, é que as escolas tenham alunos de diferentes classes sociais.

- A melhor escola tem que estar na Rocinha e não no Leblon. Os alunos pobres têm que conviver com os ricos para aumentar suas relações sociais. Só assim se resolve esse problema estrutural - diz Ramos.

A cada dez trabalhadores, nove ganham até R$700

Marcio Pochmann, professor da Unicamp, ressalta que a qualidade das escolas não é fator determinante porque existem instituições - públicas e privadas - boas e ruins. Para o especialista, há um enorme preconceito da sociedade no que diz respeito à relação social.

- Hoje, o mercado de trabalho não consegue absorver todos os trabalhadores com alta escolaridade. Com isso, os gerentes de recursos humanos partem para critérios subjetivos como o número de viagens já feitas. E como se altera isso? Com uma mudança no modelo econômico, hoje, baseada na exportação e produção de produtos de baixo valor agregado. Deve-se estimular o enriquecimento de valor da cadeia produtiva e investir em tecnologia - afirma Pochmann.

O economista destaca que, hoje, a cada dez trabalhadores, nove recebem até dois salários mínimos. Edgar Pereira, economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), endossa os argumentos de Pochmann. Para ele, os trabalhadores pobres só conseguirão vencer a forte rede de contatos dos ricos quando a economia entrar numa rota de crescimento.

- Economia fraca gera menos vagas. Como há qualificação da mão-de-obra, as empresas utilizam questões restritivas. O governo precisa criar um ambiente mais favorável e investir em ações estruturais. O agravante é que, sem entrar no mercado de trabalho, as pessoas não conseguem colocar em prática o que aprendem nas salas de aulas - diz Pereira.

Com mais renda, as famílias menos favorecidas, completa Marcelo de Ávila, economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), conseguem destinar maior parte do orçamento para a educação:

- Mesmo assim, não vai garantir nada. O que pode é aumentar a probabilidade de ficar empregado, já que haverá mais vagas em uma economia forte.

Crise no emprego chegará ao nível universitário

Entre os dois extremos, está a classe média. A jovem Renata Werneck, de 25 anos, estuda há mais de 15 anos. Atualmente, cursa a faculdade de história na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). A estudante de classe média, que mora em Vila Isabel, ressalta a dificuldade de se conseguir um emprego:

- Já trabalhei em várias empresas. Minha última ocupação era de assistente administrativa. Ainda não consegui nada na área. Sempre estudei em escola particular. Sei falar inglês. Mas a situação é difícil. O fato de ter uma boa escola e cursos extracurriculares me ajudou algumas vezes a conseguir emprego - afirma Renata.

Ramos, da UnB, frisa que hoje o desemprego é maior ao terminar o ensino médio, com dez anos de estudo. Em média, a desocupação chega a 17%. O especialista alerta que, em alguns anos, a crise chegará ao nível superior, hoje com taxa de 6,97%, segundo a Pnad/IBGE.

- É preocupante já que a escolaridade da população está aumentando. Há uma grande massificação do estudo universitário. As faculdades estão formando cada vez mais pessoas. E o mercado de trabalho já dá sinais de que não consegue absorver todos - afirma Ramos.

Por outro lado, Edgar Pereira, do Iedi, ressalta que a renda comprimida e a falta de perspectiva desestimula parte da população a continuar o estudo no nível superior.

- Com a falta de vagas, muitos trabalhadores não continuam seus estudos. O que é ruim, porque agrava ainda mais as diferenças.