Título: Real forte puxa para baixo preço de alimentos
Autor: Eliane Oliveira, Martha Beck e Patricia Duarte
Fonte: O Globo, 12/11/2006, Economia, p. 38

Brasil vende cada vez menos produtos industrializados

BRASÍLIA. O vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, afirma que um dos sintomas do impacto negativo do câmbio valorizado sobre as exportações é a queda, em volume, das vendas externas de produtos como ônibus, automóveis, tratores e calçados. A situação só não está pior, explica, por causa dos preços internacionais, que se encontram elevados. Daí os sucessivos recordes na balança comercial, tão comemorados pelo governo.

- Ninguém quer mexer na taxa flutuante, é uma conquista - diz.

Em sua opinião, a resistência da área econômica do governo em criar fórmulas que ajudem o dólar a subir - sem medidas artificiais, que comprometeriam a credibilidade do país no exterior - deve-se ao controle da inflação. Os preços dos alimentos, lembrou, são dolarizados. Grande parte dos insumos e fertilizantes é importada, e o valor dos produtos está ligado a sua cotação no mercado internacional.

- Haveria reflexo nos preços dos alimentos, que são dolarizados - destacou o vice-presidente da AEB, acrescentando considerar que uma taxa adequada para o dólar seria algo entre R$2,50 e R$2,60.

Importações concentram-se em bens de consumo

O aumento das importações, desde que qualificado, poderia ajudar, mas isso tem sempre que ficar por conta do mercado, disse Castro. O grosso das compras externas vem se concentrando em bens de consumo, e o ideal seria se ocorresse uma expansão maior dos gastos com matérias-primas e bens de capital (máquinas para a indústria, importante indício de investimentos na capacidade instalada).

- A importação aumenta se o mercado achar que vale a pena. O que vemos hoje é uma substituição de produtos nacionais por importados, porque as importações estão mais baratas - afirmou o executivo.

Para desenvolvimentistas, importação regula câmbio

A expansão das importações seria outro caminho apontado pelos desenvolvimentistas como uma das saídas para aliviar o câmbio. Nesse caso, isso ocorreria de maneira estritamente vinculada à política industrial e teria como objetivo desonerar compras externas de insumos e bens de capital.

Na avaliação predominante do governo, isso não poderia se aplicar às importações de bens de consumo, que já estão altas demais e afetam negativamente vários setores, como o calçadista, o automotivo e o têxtil.