Título: 'O governo vai responder à violência'
Autor: Jorge Antonio Barros
Fonte: O Globo, 12/11/2006, O Mundo, p. 39

Vice-presidente, que foi vítima de seqüestro, defende ação militar

o vice-presidente da Colômbia, Francisco Santos Calderón, é categórico quando fala sobre o atentado à Escola Superior de Guerra, em Bogotá, em outubro, no principal complexo militar do país: o governo dará uma resposta dura. Calderón, que já foi vítima de seqüestro e ficou em poder de Pablo Escobar, não tem dúvidas sobre o envolvimento das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) no ataque e afirma que a guerrilha perdeu uma grande oportunidade de negociar.

Em outubro, o presidente Álvaro Uribe fez duros discursos contra as Farc logo após o atentado em Bogotá. Qual será a atitude do governo em relação à guerrilha daqui para frente?

FRANCISCo SANToS CALDERÓN: o atentado de Bogotá terá conseqüências. Não vamos admitir que isso continue. Não tenho dúvidas de que as Farc foram responsáveis pelos ataques, apesar de não terem assumido. Não é a primeira vez que promovem atentados e não assumem. o governo fez tudo o que pôde, mudou sua forma de negociar para tentar uma abertura maior com o grupo. Mas as Farc não souberam aproveitar a oportunidade. o governo vai responder à violência e vai minimizar a capacidade das Farc. o primeiro ponto é acionar as forças de segurança para resgatar os seqüestrados.

o governo dos EUA declarou recentemente que está disposto a ampliar o apoio ao Plano Colômbia de combate ao narcotráfico. Como o senhor classifica o apoio dos americanos neste assunto?

CALDERÓN: É uma ajuda muito bem vinda. Todo o apoio que recebermos para combater o terrorismo e a violência é muito bem vindo. Tenho certeza de que os colombianos concordam com a ajuda. Estamos reduzindo a violência e o narcotráfico, e os frutos disso são muito bons. Com a ajuda dos EUA, poderemos ampliar esse combate.

Como o senhor avalia a segurança na Colômbia hoje?

CALDERÓN: Estamos muito melhor do que há alguns anos. Temos uma polícia eficiente e o combate ao terrorismo e ao narcotráfico estão eficientes. o resultado disso é que a Colômbia está atraindo mais turistas e mais investimentos estrangeiros. Hoje podemos dizer que somos um lugar atrativo para as empresas de todo o mundo.

Em 1990, o senhor foi seqüestrado por Pablo Escobar e ficou oito meses em cativeiro. Essa experiência mudou a forma como o senhor, agora como vice-presidente, encara a violência em seu país e trabalha para erradicá-la?

CALDERÓN: Totalmente. Ao ser seqüestrado, vivi o drama da violência, no aspecto humano, e essa lembrança surte reflexos em minha atuação como político também. Vejo o tema não somente como uma estatística, mas me vejo também no drama das pessoas que são vítimas de seqüestros, de roubos, de atentados. Luto com empenho para que esse problema seja uma realidade cada vez mais rara na Colômbia.

Quais as diferenças que o senhor aponta da Colômbia de hoje para o país que enfrentava índices insustentáveis de violência?

CALDERÓN: A violência emperrava o país e amedrontava as pessoas. Com as medidas que tomamos para diminuir consideravelmente o problema, pudemos nos concentrar em outros temas. o país agora pode crescer, se modernizar, atrair investimentos. A Colômbia hoje tem condições de valorizar sua posição geográfica privilegiada para o intercâmbio entre as Américas, para o comércio com os Estados Unidos, com os países banhados pelo Pacífico e para a integração das nações sul-americanas. Podemos valorizar nossas belezas naturais e recebemos cada vez mais turistas em diferentes regiões. A Colômbia está se firmando com muita rapidez neste setor. Minha visita so Brasil teve como objetivo promover o turismo e mostrar as belas opções que a Colômbia oferece. Um país assolado pela violência não conseguia investir nesses setores.

Alguns políticos costumam dizer que a Colômbia costuma ser mais próxima dos EUA do que de seus vizinhos. o que o senhor acha disso?

CALDERÓN: Não é verdade. Temos ótimas relações com os Estados Unidos, mas também com todos os nossos vizinhos. Desejamos muito a integração dos países sul-americanos, baseada na oportunidade comercial para todos e na colaboração. Temos ótimas relações com o Brasil e queremos estreitar ainda mais esses laços. A Venezuela, com a qual temos uma extensa fronteira, é um parceiro estratégico e, ao contrário do que muitos dizem, fazemos questão de manter excelentes relações com Caracas. Mas também desejamos manter nossas ótimas relações com os Estados Unidos e acredito que isso também é o desejo do Brasil e dos demais países do continente.