Título: Domingo de filas nos aeroportos
Autor: Martha Beck e Mirelle de França
Fonte: O Globo, 13/11/2006, Economia, p. 15

Atrasos afetam 50% dos vôos no país, chegam a dez horas e devem continuar hoje

Mesmo com o fim da operação-padrão que vinha sendo realizada pelos controladores de vôo nos principais aeroportos do país, quem tentou viajar ontem enfrentou filas e atrasos que chegaram a dez horas. De acordo com o presidente da Infraero, brigadeiro José Carlos Pereira, cerca de 250 vôos foram afetados, o que equivale a 50% de todo o tráfego aéreo do país neste Domingo. Os atrasos de ontem terão reflexos ainda hoje nos principais aeroportos, segundo previsão da própria Infraero. Para representantes das associações dos controladores de vôos, o problema foi resultado da grande quantidade de vôos no fim de semana e da falta de pessoal para monitorar o tráfego. A Infraero, a Aeronáutica e as associações negaram que a operação-padrão, que provocou o caos nos aeroportos do país na véspera do feriadão de Finados, tenha sido retomada neste fim de semana. O brigadeiro José Carlos Pereira explicou que os passageiros que partiram de São Paulo - tanto de Congonhas, na capital, quanto de Cumbica, em Guarulhos - para os estados do Nordeste foram os mais prejudicados. Os maiores atrasos ocorreram nos vôos com destino a Salvador. Segundo o presidente da Infraero, até o fim da tarde de ontem, mais de 40 vôos tiveram problemas só em São Paulo e outros 22 em Belo Horizonte. A espera dos passageiros variou entre 20 minutos e dez horas. - Mas os atrasos estão ocorrendo em praticamente todos os aeroportos do país - disse Pereira. - Essa situação vai entrar pela noite e terá efeitos na segunda-feira também. Já estamos nos preparando para os problemas de amanhã (hoje). Segundo o brigadeiro, hoje haverá várias reuniões técnicas da Infraero para discutir o problema: - Vamos discutir medidas de curto e médio prazos para evitar esses transtornos nos aeroportos.

Para controladores, atraso vai continuar

No Rio, os atrasos também causaram transtornos. A passageira Marly Castro, que tentava embarcar para Salvador no Aeroporto Internacional Tom Jobim, esperava desanimada: - Funcionários do aeroporto disseram que o melhor é não viajar até o fim do ano, porque a crise deve continuar até o Natal. O Comando da Aeronáutica garantiu que não está havendo operação-padrão dos controladores, mas não explicou a causa dos atrasos. A expectativa é de que a Aeronáutica apresente hoje uma explicação detalhada dos motivos que levaram aos atrasos. Para os controladores, a explicação é simples: falta mão-de-obra para trabalhar com eficiência e agilidade. Segundo o presidente da Associação dos Controladores de Tráfego Aéreo do Rio de Janeiro, Jorge Nunes de Oliveira, o fluxo de aeronaves no espaço aéreo brasileiro está num nível elevado mas faltam profissionais para gerenciar pousos e decolagens: - Estamos enfrentando uma falta de controladores de tráfego aéreo. Essa é uma crise sem precedentes. Oliveira lembrou que apesar de o governo já ter editado uma medida provisória (MP) autorizando a contratação de mais de 60 controladores provisoriamente, isso ainda não ocorreu, porque esses profissionais precisam, antes, passar por um treinamento. O país tem hoje cerca de 2.500 controladores. - A formação de um controlador não acontece de uma hora para outra. E temos déficit de trabalhadores em praticamente todos os aeroportos do país - destacou o presidente da associação do Rio. - Esses atrasos ainda vão durar mais tempo. O presidente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Proteção ao Vôo, Jorge Botelho, confirmou que não há operação-padrão dos controladores. Mas, segundo ele, em momentos de pico, é comum que os controladores façam um gerenciamento da atividade - procedimento pelo qual a autorização das decolagens é feita num espaço maior de tempo que o normal, por questões de segurança. Isso, segundo ele, pode resultar em atrasos, que são agravados pela falta de pessoal para atuar na área. - Não há nova operação-padrão. Mas temos enfrentado dificuldades de pessoal. Isso se agrava quando há grande quantidade de vôos em determinado período como neste fim de semana - disse Botelho. No sábado, também houve atrasos em alguns aeroportos. Vôos que partiram de Brasília para Belo Horizonte foram autorizados a decolar de 15 em 15 minutos, quando o normal seria menos de três minutos. Com isso, sofreram atraso de meia hora.