Título: Oposição fala em blindagem de Lula e petistas, em saída para a coalizão
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 14/11/2006, O País, p. 3

Demissão de Gushiken provoca reações entre líderes de partidos no Congresso

BRASÍLIA. A saída do ex-ministro Luiz Gushiken da chefia do Núcleo de Assuntos Estratégicos (NAE), uma assessoria especial da Presidência da República, foi interpretada pela Oposição como uma tentativa de blindagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas investigações de escândalos que envolveram um dos últimos homens fortes do governo, na área de comunicação. Já os petistas atribuem a demissão a uma decisão pessoal de Gushiken para facilitar a formação do novo governo.

- Ele saiu para que Lula tenha mais facilidade de justificar as cartilhas (investigadas pela TCU). É menos um fato de perturbação. Se o Gushiken não estiver no governo, talvez a mentira de que Lula também não sabia de mais esta pareça mais fácil para a sociedade - disse o deputado Roberto Freire (PE), presidente do PPS.

"É a primeira de uma série de bombas de efeito retardado"

O vice-presidente da Câmara, José Thomaz Nonô (PFL), disse que Gushiken pode ter saído para blindar Lula, mas o problema maior é o chefe de gabinete do presidente, Gilberto Carvalho:

- O mais importante integrante do núcleo duro, que participou de todos os grandes rolos do PT e do governo, continua lá, afagado pelo presidente. Basta ver o filme "Entreatos" para se ter certeza que ele é o único que Lula trata com mais carinho que dona Marisa. É mais um sinal de que o presidente se afasta do PT e dos velhos companheiros.

O deputado Júlio Delgado (PSB-MG) considera que a demissão pode ser a primeira de um movimento que resultará no afastamento de outros companheiros incômodos de Lula.

- É a primeira de uma série de bombas de efeito retardado - disse Delgado.

No PT, os alertas feitos por Gushiken de que o partido poderia se transformar num foco de problemas para Lula no segundo mandato, com cobrança de maior espaço no Ministério, mudanças na política econômica e apoio a um candidato petista em 2010, foram rebatidas.

- O PT é um partido vivo e sua maior riqueza é o calor dos seus debates. Isso incomoda e dá trabalho, mas faz a riqueza do partido. O segundo mandato terá características especiais, com a reafirmação do projeto de governo e a abertura da discussão sobre o papel do partido daqui pra frente e a construção de uma candidatura para 2010 - disse o presidente licenciado do PT, Ricardo Berzoini (SP).

O deputado Paulo Delgado (PT-MG) disse que as declarações de Gushiken refletem o sentimento da sociedade de suspeição sobre a política.

- É um erro considerar que toda dificuldade e cobrança do PT seja um problema para o governo - reagiu Paulo Delgado.

Já o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), concorda com Gushiken, mas com ressalvas:

- O alerta contido nas declarações de despedida do Gushiken servem para o PT e para qualquer partido da base aliada. É fundamental ter uma base leal, que não crie dificuldades. Mas acho que a frase forte tem o sentido apenas de chamar a atenção para a necessidade de não se criar problemas para Lula