Título: Clima de confronto
Autor: Henrique Gomes Batista, Mônica Tavares, Regina A.
Fonte: O Globo, 20/11/2006, Economia, p. 21

APAGÃO AÉREO

Aquartelamento faz controladores intensificarem operação-padrão e governo recua

O aquartelamento dos militares - medida extrema adotada pela Aeronáutica para neutralizar a operação-padrão dos controladores de vôo - não surtiu o efeito esperado no feriado de ontem e os principais aeroportos do país registraram, mais uma vez, cancelamento de vôos e atrasos de até seis horas. Em Brasília, até as 19h, mais de 50 vôos sofreram atrasos. Os controladores reagiram ao confinamento, intensificando a operação-padrão e ampliando para 20 minutos o espaço entre uma decolagem e outra. O destaque1'>clima de confronto se acirrou e a Aeronáutica decidiu suspender a medida tomada terça-feira, que durou menos de 24 horas, dispensando os militares não escalados para o plantão e mantendo-os só de sobreaviso.

Embora no início da tarde o tráfego aéreo tenha se normalizado, a queda-de-braço entre controladores e o Comando da Aeronáutica promete continuar. Os militares já estudam novas medidas punitivas para acabar com a operação-padrão.

- O destaque1'>clima no Cindacta 1 está horrível. Entre nós, o apelidamos de Auschwitz. Instalaram câmeras de vigilância por todos os lados - disse um controlador de Brasília.

Pela manhã, uma das equipes deixou de operar, devido ao afastamento, por problemas de saúde, de um dos profissionais. Isso contribuiu para o atraso, já que a escala teve de ser refeita.

Espera de seis horas dentro do avião

Os problemas se concentraram nos quatro maiores aeroportos (Congonhas e Cumbica, em São Paulo; Galeão, no Rio; e em Brasília) - todos operados pelo Cindacta 1 -, só diminuindo à tarde, depois que o Comando da Aeronáutica reformulou as escalas e manteve apenas 50 profissionais no plantão. O intervalo entre pousos e decolagens voltou ao normal, de cerca de cinco minutos.

Em Brasília, os atrasos foram, em média, de uma hora. Pela manhã, quando o tráfego aéreo não é tão intenso, os controladores adotaram o chamado "gerenciamento de vôos", ou seja, aumentaram o tempo entre pousos e decolagens. O maior problema em Brasília foi com um vôo para Buenos Aires, que atrasou quatro horas. Duas decolagens da TAM e um pouso da Varig foram cancelados. Passageiros disseram que houve acúmulo de pessoas nas salas de embarque, às quais a imprensa não tem acesso. O objetivo foi reduzir as filas nos check-ins.

O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Roberto Busato, disse que as empresas aéreas embarcavam os passageiros nos aviões, onde esperavam até 6 horas:

- Meu vôo era às 10h56 e fomos embarcados 20 minutos antes. Quase quatro horas depois eu ainda estava lá. Às 13h45, o comandante anunciou que ainda esperaríamos 1 hora e 40 minutos. Pedi para sair do avião.

No Norte e Nordeste não houve atrasos nos vôos regionais, apenas nos que passavam por Brasília, São Paulo e Rio. Recife registrou dez atrasos, e Belém, nove.

No Aeroporto Internacional Tom Jobim, no Rio, dos 76 vôos domésticos previstos - entre 7h e 18h - 56 atrasaram e 20 foram cancelados. Na véspera, houve 60 atrasos. Segundo a Infraero, os atrasos foram, em média, de 45 minutos. O maior foi na chegada de um vôo da Varig de Caracas: duas horas e meia. Já no Santos Dumont, 15 vôos da ponte aérea foram cancelados até o início da noite de ontem e seis tiveram atraso médio de 20 minutos.

Pela manhã, o cartunista Ziraldo aguardava no saguão do Tom Jobim a saída de seu vôo para Curitiba.

- Já esperava uma situação mais tranqüila hoje, devido ao aquartelamento dos controladores de vôo.

Em São Paulo, apesar do movimento tranqüilo, Congonhas registrou atraso em 18 vôos até as 15h, segundo a Infraero. Os atrasos ficaram entre 20 e 40 minutos, informaram TAM e Gol. No Aeroporto Internacional de Cumbica, em Guarulhos, até o meio-dia a Infraero registrou pouco menos de 20 atrasos.

Os atrasos em Rio, São Paulo e Brasília se refletiram no Aeroporto Internacional de Salvador deputado Luiz Eduardo Magalhães, onde a espera foi de até duas horas. Segundo a Infraero, foram atrasos corriqueiros.

Também houve pequenos acidentes. Ontem, um avião da Gol da rota Rio-Recife fez um pouso de emergência em Confins (Belo Horizonte). Houve um problema em uma janela.

Em Salvador, na noite de terça-feira, houve um problema na escala de um vôo da TAM Aracaju-Brasília. O trem de pouso travou e o avião teria aterrissado de "barriga". Ontem, a Infraero de Salvador afirmou não ter havido alerta de emergência no aeroporto, apesar de a superintendência do órgão, em Brasília, ter admitido problemas técnicos na véspera.

COLABORARAM Heliana Frazão, Ronaldo D"Ercole, Mirelle de França e Mariza Louven