Título: Comunistas vão ao Planalto festejar o camarada Aldo
Autor: Cristiane Jungblut e Plínio Teodoro
Fonte: O Globo, 14/11/2006, O País, p. 9

Presidente por um dia, deputado evita cadeira de Lula

BRASÍLIA e SÃO PAULO. A rápida passagem do presidente da Câmara, o comunista Aldo Rebelo (SP), pela Presidência da República não foi tão discreta como ele prometera. No Palácio do Planalto, onde chegou no meio da tarde ontem, Aldo comandou uma cerimônia e foi homenageado com a presença de dirigentes de seu partido. Ao fim do evento, com o atleta Marilson Gomes dos Santos, a sala estava tomada por camaradas Comunistas, como os deputados Jandira Feghali (RJ), Ignácio Arruda (CE) e Jorge Murad (SP) e a novata deputada eleita Manuela d"Ávila (RS).

O presidente do PCdoB, Renato Rabelo, contou que 25 integrantes do partido foram ao Planalto no momento histórico em que, pela primeira vez, um comunista assumiu a Presidência. Aldo disse que apenas cumpria uma atribuição constitucional:

- Valeu e continua valendo a pena lutar para se viver num país democrático, onde todos se respeitem, onde haja tolerância e, acima de tudo, responsabilidade política e espírito público. Vejo essa missão como a mais importante que já recebi.

Na breve interinidade, evitou polêmicas. Desconversou sobre mudanças na equipe econômica e sobre a liberação de arquivos militares sobre a Guerrilha do Araguaia, onde militantes do PCdoB foram mortos na ditadura:

- A Argentina é a Argentina, o Brasil é o Brasil, o Chile é o Chile, a Bolívia é a Bolívia. Cada país é um país, e o Brasil tem procurado construir a democracia com as particularidades do Brasil. Os órgãos do governo estão conduzindo as questões relacionadas com esse período dentro do espírito democrático e da responsabilidade pública.

Perguntado se sentaria na cadeira usada rotineiramente por Lula, Aldo disse que não:

- Há outras cadeiras lá na sala.

O deputado assumiu o cargo porque Lula viajou para a Venezuela e o vice-presidente, José Alencar, está em licença para tratamento de saúde.

Aldo comandou a entrega da Ordem do Mérito Desportista para o atleta Marilson Gomes dos Santos, vencedor da maratona de Nova York. Acabou discursando, o que não estava previsto, e teve dificuldades para colocar a medalha no atleta:

- Já que o protocolo foi quebrado, quero dizer ao Marilson, dizer à dona Cíntia, dizer ao seu Vítor, mãe e pai do Marilson, que esta é uma homenagem e um reconhecimento do povo brasileiro ao esforço individual de um jovem do nosso povo.

O presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes), Gustavo Petta, teve direito a uma audiência especial.

- Ele é o primeiro presidente da UNE a assumir a Presidência da República - exaltava Petta.

Aldo iniciou o dia com encontros com tucanos. Fez uma palestra na Fundação Mario Covas, em São Paulo, onde elogiou o ex-governador e a política fiscal executada em sua administração. Na platéia, além da viúva, Lila Covas, e do neto, Bruno Covas, eleito deputado estadual, estavam ao menos cinco deputados eleitos pelo PSDB. Apesar dos afagos, Aldo negou que tentasse atrair apoio a sua candidatura à reeleição para presidente da Câmara.

* Especial para O GLOBO

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