Título: Opções Petistas
Autor:
Fonte: O Globo, 17/11/2006, O país, p. 6

O PT saiu das urnas de outubro maior do que se imaginava. Menos paulista, porém. E com as vitórias de Jaques Wagner na Bahia, Marcelo Déda em Sergipe, Ana Júlia no Pará, Wellington Dias no Piauí e a boa imagem do prefeito Fernando Pimentel, de Belo Horizonte, ganhou peso a corrente de petistas que preferem um partido menos dependente dos egressos dos tempos em que a estrela da legenda era sinônimo da região do ABC.

É certo que o movimento pela "despaulistização" do partido não existiria, ou não teria vigor, se os escândalos do mensalão e da conspirata do dossiê antitucanos engendrada pelos "meninos aloprados" não tivessem as raízes bem fincadas na militância de São Paulo. Analisado por esse ângulo, o choque em gestação no partido, e que deve explodir no congresso do PT previsto para o ano que vem, nada tem a ver com diferenças regionais.

Está em questão, sob o codinome de "PT paulista", o esquema de poder partidário construído pela máquina de ativistas escolados no vale-tudo das lutas sindicais no cinturão industrial de São Paulo na década de 80, condimentado por heranças stalinistas de quem viveu os embates contra a ditadura militar na clandestinidade.

Vem daí o gosto pela sabotagem nos bastidores da política, ações sem ética justificadas pela suposta nobreza dos fins. Origina-se nessa tendência partidária o avassalador aparelhamento da máquina pública, "privatizada" pela militância para executar, com dinheiro do contribuinte, projetos específicos de poder rejeitados pela sociedade brasileira. O exemplo mais evidente é a infiltração do MST e de organizações similares na estrutura do Incra e do Ministério do Desenvolvimento Agrário.

Na terça-feira, graças a um discurso do senador Eduardo Suplicy, do PT de São Paulo, soube-se do caso da Radiobrás, criticada pelo aparelho petista incrustado na máquina pública por não funcionar como veículo de propaganda do governo. Da tribuna do Senado, Suplicy elogiou o presidente da holding de comunicação do Estado, Eugênio Bucci - demissionário, especula-se, por causa da desavença em torno do que deve ser a Radiobrás -, e aproveitou para defender a existência de instituições públicas - entre elas, esse braço estatal de comunicação, o IBGE, escolas, hospitais -, protegidas da influência dos poderosos de ocasião. Merece aplausos.

Estarão no centro da agenda do congresso do PT duas opções: se a legenda será um partido aberto ao jogo democrático - em que se ganha e se perde -, ou se prevalecerá a defesa do vale-tudo para a conquista e manutenção do poder.