Título: EUA vão financiar banco de dados global para combater a pirataria
Autor: José Meirelles Passos
Fonte: O Globo, 14/11/2006, Economia, p. 24

Governo identificou vínculos entre crimes de falsificação e terrorismo

WASHINGTON. Os Estados Unidos decidiram tomar duas novas providências para combater a disseminação da pirataria em todo o mundo. Elas foram traçadas depois que o governo americano começou a notar vínculos estreitos entre os crimes contra a propriedade intelectual e as organizações terroristas, entre elas a Al-Qaeda.

As medidas, primeiras de uma série, estão sendo adotadas por uma força-tarefa público-privada. De um lado, a indústria americana - através da Câmara de Comércio dos EUA - decidiu financiar a criação e manutenção de um banco de dados global, com informações sobre pirataria em 186 países. Elas vão desde a produção e transporte à distribuição e venda de produtos falsificados:

- Esse banco de dados será manejado pela Interpol, com sede em Lyon, na França. Fizemos isso porque achamos que chegou a hora de um esforço conjunto, e não mais de uma esforço bilateral como fizemos até aqui - revelou ontem Brad Huther, coordenador da área de direitos da propriedade intelectual daquela Câmara, em Washington.

Dos remédios vendidos no mundo, 10% são falsificados

O governo, por sua vez, criou um novo cargo diplomático: as embaixadas americanas em determinados países terão agora um "adido de propriedade intelectual". Esse funcionário, ligado ao Departamento de Comércio, terá a incumbência de coordenar a batalha contra a pirataria junto com o governo do país em que estiver servindo.

- Já temos um adido desses no Brasil, na Rússia, na Índia e na China - disse Stephen Jacobs, vice-secretário assistente de Comércio para Acordos Comerciais e Comércio Internacional.

Huther e Jacobs participaram, ontem, de uma palestra a jornalistas estrangeiros sobre pirataria, na Câmara de Comércio dos EUA. Segundo o Escritório de Comércio da Casa Branca, no ano passado, empresas americanas tiveram prejuízo de US$858,8 milhões no Brasil devido à pirataria. A perda americana, em todo o mundo, estaria entre US$200 bilhões e US$250 bilhões.

Durante o encontro, do qual participaram também representantes do Serviço de Alfândega e Proteção de Fronteira, e da indústria americana, foi entregue um folheto dizendo - entre outras coisas - que a Al-Qaeda, o Hezbollah, os separatistas da Chechenia e grupos de Kosovo bancam operações terroristas com dinheiro obtido, em parte, com a venda de produtos pirateados.

- Nós já fizemos os cálculos e concluímos que hoje dá muito mais lucro vender software pirateado da Microsoft do que cocaína - disse Caroline Joiner, diretora-executiva da Iniciativa Global Anti-Falsificação e Pirataria, daquela câmara.

Paul Fox, presidente da Coalizão Contra a Falsificação e a Pirataria, formada por grandes corporações americanas, acrescentou:

- E o problema é que as chances de um pirata ser apanhado são menores do que a de um narcotraficante.

Além de mencionar os casos corriqueiros de pirataria - CDs, relógios, software - os participantes da palestra ressaltaram falsificações mais nocivas. Exemplo: 10% dos remédios vendidos no mundo são falsificados. Outro: 2% de peças das avião instaladas por ano.