Título: Irritação e ataques à imprensa
Autor: Chico de Gois, Cristiane Jungblut e Isabel Braga
Fonte: O Globo, 17/11/2006, O País, p. 13

Garcia chega de Paris criticando jornalistas brasileiros

BRASÍLIA. Depois do descanso de vários dias em Paris, na primeira entrevista à imprensa brasileira o presidente do PT, Marco Aurélio Garcia, voltou ontem a demonstrar Irritação com perguntas sobre as divergências e insatisfações no PT com o rumo da formação do novo governo Lula. Por várias vezes, disse que não era obrigado a aceitar "teses impostas" pela imprensa.

Ontem à tarde, Garcia começou entrevista sobre o encontro de dirigentes do PT com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva dizendo que estava aberto a todas as perguntas. Mas, em seguida, demonstrou toda a sua contrariedade com perguntas de que não gostava, como, por exemplo, se o PT havia sido enquadrado por Lula no encontro. Garcia respondeu várias vezes que os jornalistas estavam querendo "impor uma tese".

Perguntado se o presidente Lula havia dado um recado ao PT sobre a redução do espaço do partido para abrigar outras legendas como o PMDB, Garcia respondeu:

- É uma tese sua. O presidente não deu nenhum recado. Não me obriguem a aceitá-la. Se me derem tempo, eu respondo. Foi uma reunião extremamente positiva, na qual foi reafirmada, da parte dele e da nossa, a disposição de constituir um governo de coalizão, fruto de um segundo turno vitorioso, que aplastou a oposição politicamente. O PMDB, para nós, não é problema. O PMDB é uma grande solução - disse o presidente do PT.

Em outro momento, ao ser lembrado que vários integrantes do PT reclamaram publicamente da provável perda de cargos, Garcia disse que falava em nome da "comissão política do PT" e pediu que a imprensa não tentasse criar divergências inexistentes:

- Não queiram me impor uma problemática que não é a problemática que discutimos. Não queiram fazer uma reunião que não houve lá. Não queiram criar divergências dentro do partido. Não é um partido monocórdio, então, num partido plural, é natural que as pessoas exponham seus pontos de vista.

O momento de maior Irritação ocorreu no fim da entrevista, quando o petista já se encaminhava para o elevador do Palácio do Planalto e continuava cercado pelos jornalistas. Ele reagiu diante da observação de que "teria muito trabalho para acalmar os companheiros":

- Não queira me impor suas teses. Qual é o seu jornal? Não pense que, porque você é do "Estado de S.Paulo", que as teses do "Estado de S.Paulo" são as verdadeiras - disse Marco Aurélio Garcia, entrando no elevador.

E ainda disse que a "despaulistização do PT" é um tema "grato à imprensa".