Título: Pior sem ele
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 15/11/2006, O Globo, p. 2

Quando se declara independente, o presidente do PMDB, Michel Temer, está na verdade reclamando de seu alijamento das conversas com o presidente Lula para a formação da coalizão de governo. ele foi derrotado, apoiou o candidato que perdeu, não pode agora reivindicar a condução do acordo. Mas, se Lula quer o PMDB unido, terá que incorporar todo mundo. Já o PT, se entende mesmo a necessidade da coalizão, deve parar de criar caso. Foi grande o mal-estar no PMDB com a contestação da senadora Ideli Salvatti à escolha de Romero Jucá como líder do governo no Senado.

A coalizão é uma necessidade, não de Lula, mas do país. O presidente já foi reeleito, teve 60,1% dos votos. Apostar na instabilidade política e na continuada desqualificação das relações Executivo/Legislativo é torcer pelo Pior. Nesta altura de nossas urgências econômicas e sociais, o Pior no quadro político não será melhor para ninguém, incluindo aí a oposição. Se Lula não se escorar num bom acordo com o PMDB, será condenado a pescar votos no varejo junto aos médios partidos.

Mas o PT está dando dois sinais de que não compreende isso bem. Foi o partido mais votado, mas conquistou apenas 16% das cadeiras na Câmara. Com elas, o presidente não faz uma canoa. Um descompasso foi a contestação à escolha de Jucá, que foi ao Planalto dizer que, se o cargo é tão importante para o PT, ele pode ajudar de outra forma, fora dele. Quando o PT estrila por tão pouco, estimula os peemedebistas do contra na sabotagem da aliança. E incentiva a resistência petista ao compartilhamento do governo, sem o qual não se faz coalizão.

O outro sinal vem sendo dado pela disposição da bancada da Câmara em reconquistar a presidência da Casa, que o PT perdeu em 2005 porque errou na escolha do candidato e na condução do processo. A pretensão é legítima, mas não pode ser buscada com voluntarismo, ignorando os aliados. Nem todos têm, à esquerda, o realismo de um Walter Pinheiro:

- É um desejo, mas é preciso compreender que a situação mudou. Outras forças, sobretudo do PMDB, ajudaram na vitória e ganharam expressão maior, que deve ser observada.

O PMDB engoliu em seco as restrições a Jucá e dedicou-se a resolver seus problemas internos. Identificada a reação de Temer, ele foi procurado anteontem pelo deputado Eunício Oliveira com um recado: alijado ele não será, mas também não será o interlocutor oficial, tendo apoiado Alckmin contra a maioria do partido.

Depois, Renan Calheiros e Jader Barbalho reuniram-se com Eunício e Geddel Vieira Lima, pretendentes à presidência da Câmara. Trocaram telefonemas com o governo e uma reunião com Lula pode acontecer ainda esta semana. Renan foi ontem para Maceió, mas volta amanhã a Brasília. Sarney também estará a postos. Na sexta-feira, haverá em Florianópolis uma reunião dos governadores do partido com Temer, organizada pelo governador reeleito de Santa Catarina, Luiz Henrique, outro "independente". Mas, dos sete que lá estarão, cinco apóiam Lula. O outro é Germano Rigotto (RS), que não se reelegeu mas não se opõe à aliança. Entre eles, Michel Temer não encontrará aliados para resistir. Os governadores têm demandas de outra natureza, querem é resolver seus problemas com o governo federal.

O ambiente de intrigas é grande dentro do PMDB, e a ciumeira do PT está aflorando. Antes que a deterioração aumente, Lula terá que agir. Segurando os petistas e acelerando a conversa com o PMDB.