Título: PF prende filho de ex-governador tucano do Pará
Autor: Ismael Machado
Fonte: O Globo, 15/11/2006, O País, p. 13

Marcelo Gabriel é acusado pela polícia de chefiar esquema que lesava Previdência no estado que foi dirigido por seu pai

BELÉM. Dez pessoas, incluindo o filho do ex-governador do Pará Almir Gabriel (PSDB), foram presas ontem na Operação Rêmora, da Polícia Federal, acusadas de integrar uma quadrilha que fraudava licitações estaduais e a Previdência. Ao todo foram cumpridos dez mandados de prisão e 26 mandados de busca e apreensão em Belém e Marituba (PA) e em Manaus. Segundo a pf, o grupo agia criminosamente em licitações e sonegava impostos. Só da Previdência o grupo sonegou R$9 milhões. As empresas envolvidas participavam de licitações estaduais para segurança pública, limpeza hospitalar e urbana, mesmo com débitos volumosos junto ao INSS, o que é ilegal. Marcelo França Gabriel, de 38 anos, filho do ex-governador Almir Gabriel, é considerado pela pf um dos cabeças da operação. Segundo o delegado Caio César Bezerra, Marcelo era uma espécie de sócio oculto das empresas envolvidas no esquema. Ele foi preso em sua casa, num condomínio de luxo de Belém, e chegou algemado à sede da pf. Com Marcelo, a polícia apreendeu dois veículos importados. - Foi provado no inquérito que ele determinava às empresas onde e como atuar. Ele era uma espécie de chefe das seis empresas envolvidas. Em várias oportunidades, ele fez parecer que é o verdadeiro dono dessas empresas - disse o delegado.

Empresas dissimulavam existência de um só grupo

Um dos presos é o auditor do Tribunal de Contas do Município Luís Fernando Gonçalves da Costa, suspeito de maquiar contas em favor das empresas vencedoras de licitações. Segundo o Ministério Público Federal, as empresas foram constituídas para dissimular a existência de um único grupo econômico, com empregados comuns e práticas semelhantes. O foco da investigação da pf foi a dívida de R$9 milhões do grupo com a Previdência: - Eles usavam laranjas para assumir a dívida ou documentos falsos, com pessoas que nunca existiram. Uma nova auditoria já mostrou que há mais R$2 milhões em dívidas ainda não definitivamente constituídas - disse o delegado. As investigações policiais da dívida deram seqüência às operações Caronte e Galiléia, em dezembro de 2004 e janeiro de 2005. Na época a pf investigava acusados de fraudar certidões negativas de débito do INSS no Pará. Os criminosos mantinham as dívidas em nome dos laranjas e revezavam as licitações entre as empresas, que partilhavam sócios, veículos, instalações, endereços e até empregados. Cerca de 130 policiais federais e cinco auditores fiscais da Previdência participaram da operação. Além das prisões, eles apreenderam documentos em empresas e órgãos do governo estadual. O ex-governador Gabriel disse que só vai se pronunciar hoje, depois de consultar advogados. O governo do estado não se pronunciou.