Título: Pacote: corte de gastos é elogiado, mas analistas alertam para 'saco de gatos'
Autor: Eliane Oliveira, Gerson Camarotti e Martha Beck
Fonte: O Globo, 15/11/2006, Economia, p. 29

PIB EM BANHO-MARIA: Fiesp cobra uma ação mais coordenada do governo

Para especialistas, medidas não podem atender apenas a interesses setoriais

SÃO PAULO. Ainda à espera do anúncio oficial do pacote, analistas dizem que o governo está na direção correta ao dar prioridade ao corte de gastos e à redução da carga tributária, mas avaliam que só isso não vai garantir o crescimento sustentado. Eles cobram uma ação mais coordenada do governo, para evitar que o pacote só atenda a interesses setoriais, e mudanças de maior alcance - que, eventualmente, exigirão negociação mais firme do governo com o Congresso.

- Tudo o que o governo está sinalizando (no pacote) é positivo, mas o sucesso vai depender de coordenação. Medidas isoladas, sem ligação, não terão impacto efetivo na economia - disse o diretor do Departamento de Economia da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Francini.

- Preferiria que o governo anunciasse só duas grandes linhas de atuação, em vez de acenar com um pacote que, dependendo do seu alcance, pode virar mais um saco de gatos - disse o economista Roberto Padovani, sócio-diretor da consultoria Tendências.

pacote mostra mudança de tendência, diz analista

Segundo Padovani, não há nada no pacote que assegure, por enquanto, um crescimento mais robusto nos próximos anos. Um estudo feito pela Fiesp com o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), e que será divulgado nos próximos dias, diz que o país tem condições de crescer "nunca abaixo" de 4%, mas "muito dificilmente" acima de 5% ao ano.

O fato de a equipe econômica priorizar agora medidas para destravar o crescimento do PIB foi elogiado por Padovani, da Tendências. Segundo ele, isso mostra uma inflexão em relação ao que aconteceu no início dos dois mandatos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e no primeiro governo Luiz Inácio Lula da Silva. Nestes casos, a preocupação era principalmente com a gestão da macroeconomia a curto prazo. Mas, a exemplo da Fiesp, o diretor da Tendências mostra preocupação com a magnitude das medidas. O risco, diz ele, é que o governo continue com foco em medidas "de varejo".

Para o economista-chefe do Iedi, Edgar Pereira, as medidas em estudo só terão eficácia se o governo acelerar a queda das taxas de juros.