Título: Economistas concordam com Ipea e esperam crescimento inferior a 5%
Autor: Eliane Oliveira, Gerson Camarotti e Martha Beck
Fonte: O Globo, 15/11/2006, Economia, p. 29

Cenário mais provável é de que, sem reformas, ritmo continue lento

Apesar de o ministro da Fazenda, Guido Mantega, ter rebatido as projeções do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) de que a economia só crescerá num ritmo de 5% ao ano em 2017, os Economistas ouvidos pelo GLOBO concordam que, sem reformas profundas para destravar os investimentos públicos e privados, o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de riquezas produzidas pelo país) manterá um ritmo lento de expansão nos próximos anos. Redução dos gastos públicos e a reforma da Previdência - para abrir espaço para investimentos do governo -, a diminuição da carga tributária e a melhora no ambiente de negócios - para alavancar projetos do setor privado - são citados como condições para a economia deslanchar. - Há gargalos que impedem um crescimento superior a 3,5% até 2015. Mas não descartamos um cenário mais otimista, de 5% em 2011, se houver mudanças profundas na área fiscal, tributária e previdenciária - afirma a professora do Ibmec e analista da Tendências Consultoria, Ana Carla Costa. O vice-diretor gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Murilo Portugal, que assumirá o cargo em dezembro, também acredita que para o país crescer será preciso conter os gastos públicos: - A redução do investimento e o aumento da carga tributária são contra o crescimento - afirmou.

Redutor de gastos é passo na direção certa

Segundo Portugal, uma meta de crescimento viável para 2007 é de 3,5%. Para ele, a proposta do governo de adotar um redutor que impeça o aumento dos gastos acima da variação real do PIB é um passo na direção correta. - A medida é acertada porque assim os gastos vão continuar se ampliando, mas menos que o crescimento do PIB, o que vai abrir espaço para investir mais em estradas, portos, educação etc. Aloísio Araujo, da Fundação Getulio Vargas, concorda que mantidas as condições atuais, o crescimento continuará lento. Mas, segundo ele, o governo pode impulsionar a economia se reduzir gastos e abrir espaço em seu orçamento para investimentos capazes de eliminar gargalos, especialmente de infra-estrutura. Outra condição é a melhora do sistema regulatório, para tornar mais estáveis as regras para o investimento privado. Já o professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) Claudio Considera é menos otimista. A seu ver, crescer mais depende de mudanças que mesmo implementadas não terão efeito no curto prazo. Para ele, a falta de controle nos gastos públicos, cobertos por aumentos de impostos, também gera insegurança no setor privado e impede novos investimentos. O diretor do Ipea, Paulo Levy, volta a bater na tecla do gasto. Diz que o cenário mais provável é de a economia crescer em torno de 3,5% em 2007 e manter um ritmo lento nos próximos anos. Mas não descarta um desempenho melhor: - Não estamos negando que os 5% podem acontecer, mas pressupõem medidas no curto prazo. Entre elas, estão o controle do gasto corrente. O economista-chefe do Bradesco, Octavio de Barros, acredita que já existem condições para que o Brasil cresça até 4,5% ao ano. - Os juros cairão mais rápido quanto maior for a abertura da economia - avaliou. Tomás Málaga, economista-chefe do banco Itaú, concorda que o grande desafio para o Brasil é aumentar os investimentos em infra-estrutura. Na sua opinião, a solução para o problema é a maior participação do setor privado, já que há uma limitação de investimentos pelo governo.