Título: Ministro nega existência de buraco negro no espaço aéreo do acidente
Autor: Mônica Tavares, Jailton de Carvalho e Carolina Brí
Fonte: O Globo, 18/11/2006, O País, p. 14

Waldir Pires rejeita relatório e diz que assunto ainda precisa ser estudado

BRASÍLIA. O Ministro da Defesa, Waldir Pires, negou ontem a existência de um "buraco negro" na comunicação entre os controles de vôo de Brasília e Manaus, região onde não chegariam as instruções de vôo para as aeronaves. Para ele, existe uma superposição dos sistemas de rádio entre os dois controles aéreos, ou seja, o alcance do sinal de um centro vai até a área coberta pelo outro centro. O relatório da Comissão de Investigação da Aeronáutica sobre o choque entre o Boeing da Gol e o Legacy da Excel Aire, divulgado anteontem, aponta falhas na comunicação.

- A informação que tenho é de que não há buraco negro, os espaços se superpõem. O Cindacta (Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo) de Manaus atravessa a sua área e o Cindacta de Brasília também atravessa a área de Manaus. Então, não há propriamente buraco negro - disse Pires.

No total, foram 26 tentativas de comunicação entre o Legacy e o controle de vôo. O Ministro avaliou que a demora pode ter ocorrido por várias razões, como a "incapacidade de freqüências". Para ele, o assunto ainda precisa ser estudado.

- Não há nenhum acidente a rigor em que as falhas não sejam decorrentes de uma, duas ou três causas, humanas ou de natureza técnica - disse Pires.

O assunto dividiu especialistas em assuntos aéreos. O brigadeiro Renato Pereira, ex-secretário-geral da Organização de Aviação Civil Internacional, voltou a pôr em xeque o Centro de Controle de Brasília. Segundo ele, os controladores de vôo permitiram que o Boeing e o Legacy viajassem em rota de colisão por quase uma hora e não adotaram medidas emergenciais para reduzir os riscos do choque:

- Eles (controladores de Brasília) tiveram todo esse tempo para tirar um avião da frente do outro e nada fizeram.

Já o coronel-aviador da reserva João Luiz de Castro, ex-chefe de investigação do Departamento de Aviação Civil, diz que não é correto imaginar que os controladores de vôo de Brasília soubessem que o Legacy estava em rota de colisão com o Boeing:

- Os controladores perderam o contato com o Legacy e, a partir daí, consideraram que o jato estava a 380 (38 mil pés), como previa o plano de vôo, portanto fora de risco de colisão.

A Justiça mais uma vez negou o pedido feito pelos pilotos Joseph Lepore e Jean Paladino para obter de volta seus passaportes. As famílias das vítimas do acidente da Gol anunciaram a criação de uma associação com legitimidade para, no futuro, entrar com ações judiciais pedindo reparo às famílias.

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