Título: Rosinha gasta até R$6 milhões para dizer adeus
Autor: Gustavo Goulart e Luiz Ernesto Magalhães
Fonte: O Globo, 18/11/2006, Rio, p. 15

GOVERNO DE TRANSIÇÃO: Comunicação recebe mais verba do que programas habitacionais ou ciência e tecnologia

Despesas com publicidade para balanço de fim de mandato incluem uma campanha milionária em rádios e TV

O balanço do governo Rosinha Garotinho vai custar caro para a população do Rio. Uma nova campanha publicitária sobre as realizações do governo do estado em rádios e TV deve custar entre R$5 milhões e R$6 milhões - segundo estimativa da própria Secretaria de Comunicação do estado. Apesar de ter anunciado um contingenciamento que atingiu todas as áreas da administração, devido a problemas de caixa, o governo Rosinha gastou somente este ano, com serviços de publicidade e propaganda, R$95,8 milhões, até o início de novembro.

Comunicação teve mais recursos que habitação

Em vez de contribuir exaltando a imagem do governo, a propaganda pode arranhá-la, a considerar os dados do Sistema de Acompanhamento Financeiro do Estado (Siafem). Os números da execução orçamentária revelam que Rosinha aplicou mais em propaganda, por exemplo, do que em agricultura, que ficou com R$72 milhões, até agora; em urbanismo, que teve R$62 milhões; em cultura, com R$52 milhões; em habitação, R$44 milhões; e em ciência e tecnologia, R$22 milhões.

O levantamento foi feito pelo gabinete do deputado Alessandro Molon (PT), que critica esta nova campanha publicitária de Rosinha, às vésperas do fim do governo.

- É um triste fim de governo. Isso só mostra que o governo do início ao fim só teve a preocupação de gastar mais dinheiro público com auto-promoção do que para resolver os problemas da população, como o grande déficit habitacional, e as favelas estão aí para mostrar isso, e os sérios problemas na área de educação - observou Molon, que é membro da Comissão de Orçamento.

O secretário estadual de Comunicação, Ricardo Bruno, negou que as despesas com propaganda e publicidade já tenham chegado a R$95 milhões. Segundo ele, a licitação vencida por cinco agências que prestam serviço ao governo previa gastos de cerca de R$100 milhões anuais, que não necessariamente foram atingidos.

Estado diz que propaganda é prestação de contas

Ricardo Bruno defendeu a nova campanha publicitária, de responsabilidade da agência Agnelo, afirmando, no entanto, que não tinha como saber se os números eram maiores ou menores do que os aplicados em outras áreas. Ele destacou ainda que a prestação de contas à população é tão importante quanto qualquer outro investimento do governo. O secretário de Comunicação afirmou ter sido informado que pelo menos os recursos da área de ciência e tecnologia, que incluem a verba da Faperj (Fundação de Pesquisa do Estado do Rio), eram bem mais altos.

Molon assegurou, porém, que o Siafem agrega os investimentos por função e que a Faperj está incluída nos recursos liquidados para a área de ciência e tecnologia. A reação à campanha publicitária de Rosinha chegou ao plenário da Alerj. O deputado Luiz Paulo Corrêa da Rocha (PSDB) fez um discurso contra a propaganda que está no ar. Ele lembrou que, ironicamente, a campanha começou no mesmo momento em que foi divulgado um estudo do Tribunal de Contas do Estado (TCE) e da Fundação Getúlio Vargas (FGV) sobre a desordem financeira do estado.

- A propaganda parece mais um samba-exaltação. Talvez já seja a aproximação do carnaval - ironizou o parlamentar. - O governo, entra ano e sai ano, tem gastos de R$80 milhões a R$100 milhões em publicidade. Agora, no apagar das luzes, vão outros milhares de reais em publicidade. É uma contradição muito grande: se ouvimos que no ano de 2007 todos terão que apertar o cinto, por que jogar recursos públicos no ralo, a 45 dias de terminar o governo? Ora, isso é autopromoção no apagar das luzes.