Título: Desemprego é maior e escolaridade menor entre os pretos e os pardos
Autor: Cássia Almeida e Heliana Frazão
Fonte: O Globo, 18/11/2006, Economia, p. 33

Diferença de renda cresce conforme os anos de estudo

Desemprego é maior e escolaridade menor entre os pretos e os pardos

Somente 8% de negros acima de 18 anos passou pela universidade

Não é somente no rendimento do trabalho que os negros se distanciam dos brancos no Brasil. A taxa de desemprego dos negros (pretos e pardos) é de 11,8% contra 8,6% dos brancos, num comportamento que se verifica desde 2002, repetindo a desigualdade verificada nos salários. Pelo estudo do IBGE, apresentado ontem, a escolaridade média dos pretos e pardos é bem menor. Os brancos têm 1,6 ano de estudo a mais que o negro. Exatamente a mesma diferença encontrada em setembro de 2002.

A diferença de renda cresce conforme se aumenta o número de anos de estudo. Quando a população comparada é sem instrução ou com apenas um ano de estudo, os brancos ganham 14,6% mais que os negros. Ao se comparar os trabalhadores com 11 anos ou mais de estudo, o abismo salarial se agiganta: os brancos ganham 92,1% mais que os pretos e pardos:

- Há menos presença de negros entre os mais escolarizados. Isso explica a inserção em ocupações de baixa qualidade e que pagam menos. É um pedaço da História que está doendo na sociedade e causando esse abismo grande. Não se fez muito para reduzir esse abismo - disse Cimar Azeredo, gerente da Pesquisa Mensal de Emprego (PME)

No trabalho doméstico, os negros são maioria

A acompanhante Rosinete de Assis Pereira, que está desempregada, já sentiu o peso da discriminação ao perder uma vaga de promotora de vendas. Com ensino médio completo e experiência, foi preterida por uma concorrente branca com menos escolaridade:

- Ela ficou e eu, não. Fiquei sabendo depois. Até hoje me sinto discriminada no supermercado e, nas lojas, as pessoas atendem melhor os brancos - desabafa.

Rosinete está no ramo de atividade que mais emprega negros: o trabalho doméstico. É acompanhante de idosos e, enquanto não consegue um emprego com carteira assinada, faz trabalhos extras acompanhando doentes em hospitais:

- Meu sonho é conseguir um trabalho com carteira assinada e poder fazer minha faculdade de enfermagem.

Mas, se a desigualdade no acesso à universidade persistir, Rosinete terá dificuldade de chegar à faculdade sonhada. No curso superior, a distância assusta. Na população de 18 anos ou mais, apenas 8,2% dos negros chegaram a freqüentar um curso superior. Entre os brancos, o percentual sobe para 25,5%. Distância que aumentou nos últimos anos.

São desvantagens que vão se somando, num ciclo de pobreza e de dificuldade de acesso à educação de qualidade:

- Na saúde, há uma diferença na expectativa de vida de sete anos a favor dos brancos, num espaço que se mantém desde 1940. O racismo é outro fator condicionante, juntando-se às desvantagens históricas dos negros - disse a socióloga da Unicamp Estela Maria Garcia Pinto da Cunha.