Título: Ex-ministros entram na mira da comissão
Autor: Fausto Macedo e Sônia Filgueiras, BRASÍLIA
Fonte: O Globo, 11/08/2006, Nacional, p. A8

A CPI dos Sanguessugas mandou 72 parlamentares para o banco dos réus e agora mira as relações do Executivo com a máfia. Três ministérios (Saúde, Educação e Ciência e Tecnologia), governos estaduais e prefeituras serão investigados por suposto envolvimento de ex-ministros, governadores e servidores com o esquema que sangrou R$ 110 milhões do Tesouro.

A base para a apuração são os depoimentos dos empresários que controlavam a Planam e a atuação de Maria da Penha Lino, ex-assessora especial do Ministério da Saúde no governo Lula. "Existem fatos novos graves que poderão nos levar a outros nomes do governo que sequer foram citados ainda", declarou o deputado Júlio Redecker (PSDB-RS), sub-relator da CPI para esmiuçar irregularidades em setores do Executivo.

Redecker aponta seu trabalho para as relações suspeitas de autoridades com o empresário Luiz Antônio Vedoin. Dono da Planam, carro-chefe da fraude, Vedoin é acusado de comandar a máfia. "Vou investigar fatos", afirmou o deputado.

Vedoin revelou, por exemplo, detalhes sobre a participação do ex-presidente do PT no Ceará José Airton Cirilo no esquema de liberação de verbas para prefeituras junto ao Ministério da Saúde.

O empresário afirmou ter feito dezenas de depósitos e bancado despesas de viagens de Cirilo, candidato a deputado federal. Em contrapartida, o petista teria intermediado a liberação de R$ 8 milhões pendentes na pasta no início do governo Lula, relativos à venda de 130 ambulâncias. R$ 867 mil foram depositados em contas correntes de terceiros supostamente ligados a Cirilo. Ele diz que as acusações são "fantasia".

Vedoin declarou ter pago despesas de Antonio Alves, chefe de gabinete do ex-ministro Humberto Costa, candidato a governador de Pernambuco pelo PT. O empresário e seu parceiro Ronildo Pereira disseram que Cirilo intermediou encontros com o governador do Piauí, Wellington Dias (PT), para discutir o direcionamento de licitação para a compra de ambulâncias num total de R$ 12 milhões. O grupo teria sido recebido pelo menos três vezes pelo governador, na Casa Civil.

A sub-relatoria também vai apurar os passos da máfia na secretaria de Saúde do governo Zeca do PT (MS). O relatório de 973 páginas que a CPI produziu dedica um capítulo ao Executivo "e seu grau de participação". Cita com detalhes a movimentação de Maria da Penha, infiltrada pela máfia no Ministério da Saúde para agilizar a liberação de emendas para compra de ambulâncias.