Título: LIMITES DA CONVERSA
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 21/11/2006, O Globo, p. 2

Nem tanto ao mar nem tanto à terra: o líder do PSDB, Arhur Virgílio, não sinalizou com um armistício, muito menos com uma adesão, ao aceitar uma carona de avião do presidente Lula e admitir que a oposição pode interagir com o governo no interesse do país. Nem tanto, mas o presidente efetivamente começa a desfrutar de uma distensão política obtida, em boa parte, graças a gestos seus.

Se na oposição encontra disposições, ainda que isoladas, para o diálogo, entre os partidos potencialmente aliados, como o PMDB, crescem as possibilidades de um acordo que leve a um governo de coalizão. Amanhã Lula se encontra com o presidente do partido, Michel Temer, e este rito é importante, ainda que tenha despertado ciúmes entre os que já apóiam o governo há mais tempo, como Renan e Sarney. Na quinta-feira, Lula almoça com governadores aliados que lhe devem manifestar apoio e apresentar, é claro, uma lista de pleitos comuns. Entre 15 e 18 governadores devem participar do encontro, organizado pelos governadores eleitos Jacques Wagner e Marcelo Déda, do PT, e Blairo Maggi, do PPS.

A fala amistosa do líder tucano provocou reações tanto no PSDB como no PFL, a começar pelo ex-presidente Fernando Henrique, que na campanha advertiu o governador Aécio Neves sobre o risco de tornar-se um "inocente útil" ao PT. No PFL, que se inclina por uma oposição mais renhida, o desagrado foi maior e generalizado. Arthur, que deu combate renhido a Lula nos últimos quatro anos, não foi além do protocolo adotado pela oposição derrotada diante do vencedor em qualquer democracia madura. No Parlamento, a oposição tem mesmo que interagir com o governo, seja de quem for, quando estiver em pauta temas de interesse do país. Foi o que disse Arthur: o governo que apresente uma agenda se quer conversar. Ficar lembrando que o PT fazia oposição pirracenta no passado não leva a nada, senão a uma dança em círculos nas nossas práticas políticas.

Ontem o ministro Tarso Genro telefonou ao líder tucano, tentando aproveitar o clima que rolou no avião presidencial na volta dos funerais do senador Ramez Tebet. Em sua agenda, a reforma política, tema de encontro que teve com o presidente da OAB, Roberto Busato. Ambos defenderam o fim da reeleição.

Do conjunto de projetos para a reforma política em tramitação na Câmara, e já aprovados pelo Senado, não consta uma emenda propondo o fim da reeleição. Mas como ela jamais será aprovada, senão por acordo, está aí o primeiro ponto para um eventual diálogo entre governo e oposição. Há, naturalmente, questões mais prementes, mas como o PFL e o PSDB também têm falado contra a reeleição, havendo até projetos neste sentido de autoria de tucanos e de pefelistas, eles podem discutir a inclusão da matéria no pacote da reforma política. Ou então, que não se fale mais nisso e tratem os partidos, governistas e de oposição, de se entender sobre uma regulamentação decente. Do contrário, em 2014 teremos novamente um presidente disputando a reeleição, com regras frouxas e pouco claras, e a oposição o acusando de abusar do cargo.

Isso se a própria reforma política sair, o que só acontecerá se houver mesmo um amplo entendimento entre os partidos.