Título: OPOSIÇÃO REJEITA PROPOSTA DE DIÁLOGO DE LULA
Autor: Gerson Camarotti
Fonte: O Globo, 21/11/2006, O País, p. 4

PSDB teme que conversa passe imagem de cooptação pelo governo e PFL diz que negociação tem que ser no Congresso

BRASÍLIA e SÃO PAULO. O desejo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de iniciar um diálogo com a oposição não foi bem recebido por tucanos e pefelistas. Até mesmo o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso se mostrou contrariado em conversas com tucanos, ontem, sobre a tentativa de aproximação feita por Lula com o líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM), no último sábado. Os dois conversaram no vôo de volta a Brasília depois do enterro do senador Ramez Tebet (PMDB-MS), e Lula disse que iria procurar o PSDB para tratar das reformas que enviará ao Congresso e sugeriu a criação conselho de ex-presidentes da República.

No núcleo do PSDB, a avaliação foi de que a conversa prejudicou o partido, porque passa a imagem de cooptação de tucanos pelo presidente Lula. Após uma eleição polarizada, marcada por denúncias de escândalos no governo, uma conversa agora poderia significar que a oposição estaria avalizando o presidente antes mesmo da posse.

FH: "Não tenho nada para conversar com Lula"

Ao ser perguntado por um tucano sobre a possibilidade de uma conversa com Lula, o Fernando Henrique foi taxativo:

- Não tenho nada para conversar com Lula neste momento.

Preocupado com a repercussão da conversa entre Lula e Virgílio, o presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), evitou falar ontem sobre o assunto. Já o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) afirmou ontem que a oposição não vai conversa com o governo. Para ele, a estratégia do presidente é de tentar enfraquecer os adversários:

- Se a oposição for ao Planalto, vai avalizar a tese de que está absolvendo os atos de corrupção do governo que nós denunciamos na eleição.

O governador eleito de São Paulo, José Serra (PSDB), porém, disse ontem, ao anunciar o nome de mais nove secretários, que está disposto a conversar com o presidente reeleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre o futuro do país e sobre os entraves para o crescimento:

- Estou à disposição do presidente no momento oportuno, se for o caso.

No PFL, a proposta de Lula de abrir um canal de diálogo com a oposição também não encontrou eco. O líder do partido no Senado, José Agripino Maia (RN), foi categórico: não irá ao Planalto conversar com Lula e que qualquer tratativa entre governo e oposição tem que ser feita no Congresso:

- O que for de interesse coletivo vamos tratar no Congresso. A ida ao Planalto implicaria numa foto que precisaria ser explicada ao Brasil. E tudo que exige uma explicação não é conveniente para a oposição.

No fim da tarde de ontem, Arthur Virgílio recebeu um telefonema do ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, com o mesmo recado de Lula: o governo quer abrir o diálogo com a oposição. Tarso convidou Virgílio para debater economia no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. Virgílio preferiu deixar para o próximo ano e disse que a conversa entre Lula e o PSDB só acontecerá se o governo apresentar uma agenda para discussão:

- Não estou disposto a ganhar campeonato de radicalidade. O PSDB não se nega a conversar sobre o país. Mas, para isso, é importante ter uma agenda, para que não ficar numa conversa vazia.

A aproximação com a oposição foi discutida ontem por Lula na reunião da coordenação política. Segundo Tarso, o presidente avaliou que a relação do governo com a oposição tende a melhorar e, com a base aliada, a se ampliar.

- A avaliação do presidente é que há um novo patamar hoje de relacionamento entre governo e oposição, de uma lado, e há uma enorme possibilidade de que o governo tenha uma base bem mais sólida no parlamento para governar no segundo governo - disse Tarso.

Na reunião também foi tratada da solenidade de posse do presidente. O governo quer um único dia de cerimônia, em 1º de janeiro.

Colaborou Luiza Damé