Título: EM 2006, PAÍS QUASE REGISTROU 3 ACIDENTES AÉREOS
Autor: Jailton de Carvalho
Fonte: O Globo, 21/11/2006, O País, p. 9

Documentos mostram que desastres poderiam ter sido piores que o da Gol; PF começa a ouvir controladores de vôo

BRASÍLIA. Documentos confidenciais da Aeronáutica relatam que seis aviões estiveram na iminência de se envolver em três grandes acidentes desde o início do ano no espaço aéreo brasileiro. Trechos dos documentos, divulgados pela revista "Época" e pelo "Fantástico", da TV Globo, mostram que, por pouco, estes aviões não colidiram. Pelos relatos oficiais, estes quase-acidentes poderiam acabar em tragédias ainda maiores que o desastre entre o boeing da Gol e o Legacy, da ExcelAire, que resultou na morte de 154 pessoas, em 29 de setembro.

Segundo reportagem do "Fantástico", no dia 16 de janeiro deste ano, depois de decolar de Curitiba, um boeing da Varig passou a 300 metros de um Fokker da TAM, que retornava de Buenos Aires. No dia 19 de maio, outro avião da Gol, que também partira de Curitiba com destino a Campinas, passou a 150 metros de um Cessna. No dia 30 de junho, um MD 11 da Varig quase se chocou contra um Brasília, no Aeroporto Brigadeiro Eduardo Gomes, em Manaus. O Centro de Comunicação Social da Aeronáutica não se manifestou.

Ontem, quatro dos 13 controladores de vôo que estavam de plantão em São José dos Campos e em Brasília no dia 29 de setembro, data da colisão entre o Boeing 737-800, da Gol, e o Legacy, da ExcelAire, prestaram depoimento à Polícia Federal. Os controladores fizeram longas explanações sobre os procedimentos adotados em relação à viagem do Legacy de São José dos Campos, origem do vôo, até Brasília. As explicações agradaram ao delegado da PF Rubens José Maleiner.

- Os depoimentos foram longos e ricos - afirmou o delegado, segundo relato de um policial que está acompanhando de perto as investigações.

Nove controladores de Brasília ainda serão ouvidos

O delegado não informou se os controladores apresentaram novas informações que ajudem a esclarecer as causas e as circunstâncias do desastre. Para a polícia, as explicações são essenciais para a conclusão definitiva sobre o desastre.

Relatório preliminar da Comissão de Investigação da Aeronáutica, divulgado na semana passada, apresenta vários problemas de comunicação entre o Centro de Controle de Tráfego Aéreo de Brasília e os pilotos do Legacy que podem ter implicações sobre o acidente. Maleiner interrogou os controladores pela ordem de atuação de cada um em relação ao vôo do jato. Hoje, o delegado retoma os depoimentos. Ainda faltam nove controladores de Brasília a serem ouvidos. A PF fez um acordo com a Aeronáutica e não divulgará os nomes dos interrogados até a conclusão da apuração.

Um policial federal entregou ontem ao chefe do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), brigadeiro Jorge Kersull, a ordem do juiz Charles Frazão de Moraes, da Justiça Federal de Sinop, para que a Aeronáutica compartilhe com a PF todas as informações que dispõe sobre o acidente. Pelo despacho do juiz, Kersull tem até o início da tarde de amanhã para repassar as informações, inclusive os dados das caixas-pretas do Boeing e do Legacy. A PF quer ter acesso a estes documentos antes de interrogar os pilotos do Legacy, os norte-americanos Joseph Lepore e Jean Paul Paladino.