Título: IMPORTAÇÕES E CRISE DA VARIG AFETAM SALDO DE TRANSAÇÕES COM O EXTERIOR
Autor: Patricia Duarte
Fonte: O Globo, 21/11/2006, Economia, p. 18

Em outubro, conta ficou positiva em US$1,526 bi, abaixo do esperado

BRASÍLIA. A expansão acelerada das importações e a crise da Varig fizeram as chamadas transações correntes - relações de compra e venda de bens e serviços do Brasil com o resto do mundo e o pagamento de juros e dividendos - fecharem o mês passado bem abaixo das expectativas do Banco Central (BC). A conta ficou positiva em US$1,526 bilhão em outubro, o melhor desempenho histórico nestes meses, embora a autoridade monetária esperasse US$2,7 bilhões. No ano, o saldo está acumulado em US$11,662 bilhões.

Com a crise da Varig, que diminuiu muito seus vôos para o exterior, as receitas geradas pela empresa com esses serviços minguaram. O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, explicou que, como coube às companhias internacionais cobrir majoritariamente as rotas, o que antes representava entrada de recursos virou "retirada".

O cenário é mais adverso neste campo porque, com o real valorizado, os brasileiros estão embarcando cada vez mais para o exterior: os gastos com viagens ficaram negativos em US$213 milhões no mês, elevando o déficit do ano para US$1,221 bilhão.

Isso afetou a conta de serviços do balanço de pagamentos - só com transporte aéreo, o déficit no ano está em US$1,536 bilhão, 52,38% a mais do que de janeiro a outubro de 2005.

- Além disso, a balança comercial veio abaixo do esperado, com mais importações. Nós erramos nas projeções - afirmou Lopes.

Negócio da Vale faz dívida externa subir para US$174 bi

O resultado da balança comercial também influenciou o balanço de pagamentos: o superávit de outubro foi de US$3,916 bilhões, aquém dos US$4,427 bilhões registrados no mês anterior.

Na conta financeira do balanço de pagamentos, o BC informou que os investimentos estrangeiros diretos ficaram em US$1,722 bilhão em outubro. Já os investimentos de empresas brasileiras no exterior somaram US$15,022 bilhões, devido à compra da canadense Inco pela Vale do Rio Doce, que pode movimentar US$17 bilhões. O BC revisou de US$10 bilhões para US$23,7 bilhões a estimativa de investimentos brasileiros lá fora este ano.

O negócio fechado pela Vale não afetou o balanço porque houve contabilização de saídas e entradas de recursos (como empréstimos) equivalentes. No entanto, houve impacto na dívida externa do país, que cresceu de US$160,839 bilhões em setembro para US$174,560 bilhões em outubro. A diferença foi justamente o movimentado pela operação da mineradora no período.

- Isso não preocupa porque está vinculado a uma só operação - explicou Lopes.