Título: LIMITE DA PACIÊNCIA
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 22/11/2006, O Globo, p. 2

Em momento de tranqüilidade econômica e num ambiente político altamente favorável, o governo recentemente aprovado pelos eleitores tem se desgastado com a prolongada crise no setor aéreo, que vem conturbando a vida dos que viajam e prejudicando as empresas do setor. Os depoimentos de ontem no Senado deixaram claro que o governo está improvisando para contornar um problema que o "pegou de calças curtas", como admitiu ontem o presidente Lula em relação à crise no agronegócio.

Em 2003, segundo o representante das empresas, Marco Antonio Bologna, foram acertadas 11 medidas para o setor que acabaram não sendo implementadas. Entre elas, a contratação de mais controladores de vôos. Ainda em 2001, as empresas teriam dado o alerta de que o sistema estava operando no limite de sua capacidade. Sabe-se também que, há mais de um ano, o Ministério do Planejamento autorizou um concurso para controladores de vôo, mas a Aeronáutica não o realizou porque não aceitava a contratação de civis. Fez uma consulta ao TCU, que acabou postergando o concurso.

Uma reunião de ministros ontem no Planalto, sem a presença do presidente, concluiu que o desgaste é grande e que as medidas apresentadas por Ministério da Defesa, Aeronáutica, Anac e Infraero até agora mostraram-se insatisfatórias. Estavam presentes os ministros Mantega (Fazenda), Márcio Thomaz Bastos (Justiça), Dilma Rousseff (Casa Civil), Tarso Genro (Relações Institucionais) e Luiz Dulci (Secretaria Geral). O líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia, também presente, contou-lhes que, já estando há mais de três horas no aeroporto de Congonhas (SP), tentando embarcar para Brasília, foi muito assediado por passageiros revoltados, que o identificavam a partir das muitas entrevistas que foi obrigado a dar sobre o problema. A paciência dos usuários também está se esgotando.

Na audiência no Senado, a Anac anunciou um conjunto de medidas que, segundo seu presidente, Milton Zuanazzi, vão resolver o problema antes dos feriados de Natal e Ano Novo. Mas elas se baseiam, essencialmente, na redistribuição dos horários de vôos, mais um paliativo. A entrada em atividade de controladores que estão em treinamento é que pode atenuar o problema. O ministro Waldir Pires negou que cortes de verbas tenham afetado o setor. Se não foi por falta de dinheiro, é pior ainda. Foi falha de gestão e planejamento mesmo. Ao ponto de o brigadeiro Luiz Carlos da Silva Bueno, comandante da Aeronáutica, ter admitido falha do controle aéreo no acidente com o avião da Gol, o que nos deixa a todos pensando: podia ter sido comigo. Ele e Zuanazzi acusaram as companhias aéreas de estarem se aproveitando da operação-padrão dos controladores para justificar suas próprias falhas. Isso é verdade. Muito antes da operação-padrão, os vôos já raramente saíam no horário. Fiscalizá-las é uma tarefa da Anac.