Título: PETROBRAS DÁ NOVA VERSÃO SOBRE TELEFONEMAS
Autor: Evandro Éboli
Fonte: O Globo, 22/11/2006, O País, p. 8

Estatal agora diz que Lacerda e um de seus gerentes também conversaram sobre campanha eleitoral

BRASÍLIA. Integrante do grupo que negociou a compra do dossiê contra candidatos tucanos, o petista Hamilton Lacerda terá que explicar amanhã aos deputados da CPI dos Sanguessugas por que trocou pelo menos 15 ligações com o gerente de Comunicação Institucional da Petrobras, Wilson Santarosa, no período em que o material era negociado. Lacerda foi convocado ontem pela CPI, assim como o empresário Abel Pereira, ligado ao ex-ministro tucano Barjas Negri e suspeito de negociar o silêncio do chefe da máfia dos sanguessugas, Luiz Antônio Vedoin.

Inicialmente, a Petrobras disse que Lacerda procurou Santarosa para tentar conseguir ingressos para o GP Brasil de Fórmula-1, disputado em outubro, em São Paulo. A explicação não convenceu deputados de oposição. Ontem à noite, porém, a Petrobras informou que, na maioria das ligações, Lacerda e Santarosa trataram da organização de um jantar de apoio à candidatura do senador petista Aloizio Mercadante ao governo de São Paulo. Segundo a estatal, Santarosa foi convidado a obter adesões para a campanha.

- Essas relações terão que ser explicadas. O problema é que, como as ligações não foram gravadas, as pessoas podem escolher qualquer conteúdo - disse o sub-relator da comissão, Fernando Gabeira (PV-RJ).

Telefonemas ocorreram às vésperas da prisão de petistas

A CPI considera suspeitos os contatos telefônicos entre Lacerda e Santarosa. As 15 ligações aconteceram entre 2 de agosto e 14 de setembro, véspera da prisão do ex-policial federal Gedimar Passos e do petista Valdebran Padilha com o R$1,7 milhão que seria usado na compra do dossiê. Lacerda foi apontado pela PF como a pessoa que entregou o dinheiro a Gedimar, no hotel em que ele foi preso, em São Paulo. Por isso, a CPI decidiu investigar se Santarosa teria relação com o caso.

Ex-coordenador da campanha derrotada do senador Aloizio Mercadante (PT) ao governo de São Paulo, Lacerda pediu afastamento do cargo após confessar que participou da negociação para a compra do dossiê. No dia anterior à prisão de Gedimar e Valdebran, ele foi flagrado por câmeras de circuito interno de TV entrando com uma mala no hotel Ibis Congonhas, em São Paulo, onde os dois estavam hospedados.

A Justiça Federal do Mato Grosso autorizou a quebra do sigilo telefônico de Lacerda no início de outubro. O dinheiro transportado por ele seria entregue ao empresário Luiz Antônio Vedoin em troca do dossiê contra os tucanos. Desde o começo das investigações, a Polícia Federal já fez 70 pedidos de quebras de sigilos telefônicos, que foram atendidos pela Justiça.

Lacerda nega que transportasse dinheiro e alega que tratava-se de material de campanha. Ontem, no entanto, em depoimento à CPI, Valdebran disse que a mala em que recebeu parte do dinheiro de Gedimar (R$1 milhão) era parecida com a que Lacerda entrou no hotel.

Mesmo sem quórum para votar convocações, a CPI aprovou os requerimentos por consenso. Hoje, será a vez de os deputados ouvirem Oswaldo Bargas, ex-funcionário do comitê de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e também acusado de negociar a compra do dossiê.