Título: Doações de empreiteiras ao PT cresceram 476%
Autor: Evandro Éboli
Fonte: O Globo, 22/11/2006, O País, p. 8

Treze empresas vinculadas à Abemi deram R$5,8 milhões ao partido em 2006 contra R$1 milhão em 2002

BRASÍLIA. As doações feitas a campanhas do PT por 13 empreiteiras vinculadas à Associação Brasileira de Engenharia Industrial (Abemi) aumentaram 476% este ano em relação a 2002. Ao todo, as empreiteiras doaram a candidatos petistas, em 2006, R$5.879.500, contra R$1.020.000 doados há quatro anos ao partido do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva. A diferença é de R$4.859.500.

Os valores das doações de 2006 são referentes apenas ao primeiro turno das eleições deste ano e tratam de repasses feitos para candidatos a deputado estadual e federal e a senador. Também estão incluídas doações para governadores eleitos no primeiro turno. As prestações de conta de Lula e de seu adversário no segundo turno, o tucano Geraldo Alckmin, ainda não foram apresentadas ao Tribunal Superior Eleitoral. Os governadores que disputaram o segundo turno também não prestaram contas. Já os dados de 2002 são completos e levam em conta doações feitas para os candidatos à Presidência.

Se o valor das doações feitas por essas empresas ao PT aumentou significativamente no período de quatro anos, o mesmo não pode se dizer do repassado ao PSDB. Os tucanos receberam das 13 empreiteiras R$4.980.000 para suas campanhas em 2006. Em 2002, o partido de Geraldo Alckmin foi contemplado com R$1.996.427. Na comparação entre 2002 e 2006, as doações ao PSDB cresceram 149%.

Algumas empresas que não deram quase nada ao PT há quatro anos, em 2006 foram bem generosas com a legenda do presidente. A UTC Engenharia, por exemplo, tinha doado só R$20 mil em 2002 e este ano pulou para R$1.380.000. A Camargo Corrêa, que destinou ao PT apenas R$217.000 em 2002, ampliou o valor para R$1.791.000. O total de doações feitas pelas 13 empresas para todos os partidos, e registradas até o momento na Justiça Eleitoral, já é maior que há quatro anos. Em 2006, elas doaram cerca de R$21 milhões, contra R$8,9 milhões em 2002. O aumento foi de 135%.

A Camargo Corrêa foi a mais generosa. Mas as doações feitas pela empreiteira revelam que ela também deu atenção especial ao PCdoB. A empresa, que ignorara o partido em 2002, repassou à legenda do presidente da Câmara, Aldo Rebelo (SP), este ano, R$465 mil. E escolheu a dedo os quatro candidatos comunistas: o próprio Aldo, reeleito para a Câmara; seu irmão Antônio Apolinário, candidato derrotado a deputado distrital em Brasília; Inácio Arruda, senador eleito no Ceará; e o líder do partido na Câmara, Renildo Calheiros, que se reelegeu.

Entre os governadores reeleitos em primeiro turno, Aécio Neves (PSDB), de Minas, recebeu da Camargo Corrêa R$300 mil. O candidato petista Aloizio Mercadante, derrotado em São Paulo, recebeu R$200 mil. Blairo Maggi (PPS), reeleito no Mato Grosso, foi beneficiado com R$40 mil. Ao derrotado Germano Rigotto (PMDB), do Rio Grande do Sul, a empresa doou R$100 mil.

Algumas dessas empreiteiras, como a Genpro Engenharia, a Dedini Indústrias de Base e a Iesa Projetos, fizeram doações apenas em 2006. A Genpro só destinou dinheiro ao PT: R$580 mil. A Dedini doou R$290 mil e o PSDB foi o maior beneficiado: R$185 mil. O PT ficou com apenas R$20 mil. A Iesa deu R$80 mil ao PPS e R$10 mil ao PT.

As 13 empreiteiras da Abemi que fizeram doações são: Genpro, UTC Engenharia, Engevix, Herjack Engenharia, Figueiredo Ferraz, Dedini, Iesa Projetos, Potenciar Engenharia, Camargo Corrêa, Norberto Odebrecht, OAS, Andrade Galvão e BSM Empreendimentos. A Abemi divulgou outra nota oficial ontem negando critérios políticos na distribuição de verbas repassadas pela Petrobras.

Como foi a apuração

A reportagem do GLOBO publicada domingo foi baseada em minucioso levantamento, feito pelos repórteres, sobre os contratos da Petrobras de agosto do ano passado a outubro deste ano. Tudo baseado em dados disponíveis na página da empresa na internet. Antes, os repórteres pediram diretamente à estatal a informação sobre os gastos na área social, mas não obtiveram resposta. A apuração passou então à fase de esmiuçar os dados públicos, cujo acesso pode ser feito por qualquer cidadão. Os repórteres optaram por montar uma planilha com os dados oficiais. A distribuição de recursos foi tabulada mês a mês. Foram separados, então, os repasses relacionados a patrocínios culturais, convênios com prefeituras e aporte de recursos para projetos sociais. Depois de pesquisar esses casos, com consultas a sites de busca na internet, pesquisa nos arquivos do jornal, telefonemas e idas a algumas entidades, a equipe decidiu centrar as reportagens nos repasses feitos a instituições da área social. Logo nos primeiros casos, aparecia a ligação de integrantes de ONGs que receberam somas significativas da estatal com o PT. Como informou O GLOBO desde a primeira reportagem, a checagem foi aleatória e por amostragem. Não havia como visitar ou investigar os mais de mil contratos. Mesmo assim, foram identificados, em duas semanas, mais de duas dezenas de convênios com entidades ligadas ao PT.

Em nenhum momento foi feita consulta a gabinetes de parlamentares, já que o levantamento poderia ser feito por qualquer pessoa e não está disponível no Siafi, sistema de consulta restrito a servidores e deputados.