Título: PT E PMDB SE UNEM PARA PRESIDIR A CÂMARA
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 22/11/2006, O País, p. 12

Partidos querem se alternar no comando da Casa nos próximos anos, minando as chances de reeleição de Aldo Rebelo

BRASÍLIA. O PMDB e o PT iniciaram entendimentos para fazer um acordo pelo qual os dois partidos se revezariam nos próximos quatro anos na presidência da Câmara dos Deputados. A negociação, que pretende impedir que a disputa entre os dois partidos resulte na reeleição do atual presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), foi deflagrada na noite de segunda-feira, em Brasília, quando se encontraram, reservadamente, o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), e o deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA).

Ambos são candidatos ao cargo e pretendem criar um fato político que mude a atual tendência do processo, pela qual Aldo seria reconduzido com o beneplácito do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Se os dois partidos chegarem a um acordo - que não envolve as eleições para a presidência do Senado -, o candidato que surgirá desta união terá, de saída, 173 votos, tornando-se praticamente imbatível.

Os petistas e os peemedebistas só não fecharam um acordo ainda porque divergem sobre quem deve presidir a Câmara nos primeiros dois anos da próxima legislatura.

Petistas querem o cargo nos primeiros dois anos

O impasse ocorre porque os petistas querem presidir a Câmara nos próximos dois anos. Esta é a posição da bancada e também de Chinaglia, que agora seria o candidato natural e teria a simpatia de líderes do PTB, do recém-criado Partido da República, ex-PL, e do PP. A dificuldade dos petistas decorre do fato de o partido ser a segunda maior bancada da Câmara, atrás do PMDB.

Este é o argumento usado pelos peemedebistas, que alegam que seria natural justificar o acordo se os primeiro dois anos ficassem com o PMDB, que elegeu 89 deputados, seis a mais que o PT. Os peemedebistas consideram que se o PT insistir em presidir a Câmara nos primeiros dois anos, a tendência da bancada seria apoiar a reeleição de Aldo Rebelo.

O acordo, que está sendo negociado, serve aos dois partidos, mas o líder Arlindo Chinaglia avalia que pode não ser interessante ter que esperar dois anos, quando tudo pode acontecer, pela sua vez.

Para o PMDB e o PT, dificilmente se repetirão em fevereiro as condições especiais que viabilizaram a eleição de Aldo Rebelo. Mesmo assim, os dois candidatos se movem com cautela para evitar que um passo em falso abra espaço para uma candidatura da oposição ou um candidato frágil do ponto de vista institucional, como aconteceu com a eleição do ex-deputado Severino Cavalcanti (PP-PE), em 2005, que depois renunciou ao mandato para escapar da cassação.

Senadores criam bloco de oposição

Temer dirá a Lula que governo não terá adesão integral do PMDB

BRASÍLIA. Às vésperas de o PMDB receber do presidente Lula o convite oficial para integrar um governo de coalizão, um grupo de seis senadores do partido formalizou ontem a criação de um bloco independente. O grupo não pretende se alinhar ao governo, embora reconheça que esta é a posição da maioria do partido. A criação do bloco ocorreu numa churrascaria, em almoço que contou com os senadores Almeida Lima (SE), Garibaldi Alves (RN), Geraldo Mesquita (AC), Mão Santa (PI) e os eleitos Jarbas Vasconcelos (PE) e Joaquim Roriz (DF).

Os senadores chamaram o presidente do PMDB, Michel Temer (SP), para informá-lo da decisão e sugeriram que dissesse ao presidente que ele não terá o apoio de todo o PMDB.

- Eles me comunicaram que não vão se alinhar ao governo, que compreendem que a maioria quer participar e que não pretendem atrapalhar a coalizão. Disseram que farão uma oposição responsável - disse Temer.

O bloco poderá chegar a nove senadores, metade da bancada que o PMDB terá a partir de fevereiro. Além dos seis que se reuniram ontem, devem apoiar essa posição Pedro Simon (RS), que estava em Porto Alegre; o recém empossado Valter Pereira (MS), suplente de Ramez Tebet, falecido no sábado; e o suplente do tucano Leonel Pavan (SC), Neuto de Conto.

Jarbas foi o porta-voz do grupo. Ele admitiu que, ao contrário de 2003, a parcela oposicionista hoje é minoritária no PMDB e representa menos de 10%.

- Ninguém aqui pretende dar murro em ponto de faca e está achando que vai impedir o presidente Michel Temer de se encontrar com o presidente Lula. Só pedimos a ele que deixe claro ao presidente que não é todo o PMDB que concorda com essa adesão. Em 2003, nós tínhamos até condição de virar a mesa, mas agora seria uma coisa juvenil - afirmou Jarbas.

O PMDB espera a filiação de Roseana Sarney (MA), que já deixou o PFL, e de Romeu Tuma (PFL-SP).(Ilimar Franco e Adriana Vasconcelos)