Título: GOL: AERONÁUTICA ADMITE FALHA DE CONTROLADOR
Autor: Anselmo Carvalho Pinto
Fonte: O Globo, 22/11/2006, O País, p. 13

Em audiência no Senado, comandante reconhece, pela primeira vez, que central se enganou sobre posição do Legacy

BRASÍLIA. O comando da Aeronáutica admitiu pela primeira vez que os controladores de vôo podem ter errado ao monitorar o jato Legacy que se chocou com o Boeing da Gol, provocando a morte de 154 pessoas. Em audiência pública ontem no Senado, o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Luiz Carlos da Silva Bueno, disse que o controlador de vôo de Brasília teria sido induzido a pensar que o Legacy voava a 36 mil pés a partir de Brasília, como previsto no plano de vôo original.

Segundo ele, como o transponder, instrumento que permite identificar a altitude exata da aeronave, não estava funcionando, o controlador acreditou que jato seguia o plano de vôo. Sem o transponder, o radar não mostra uma posição precisa da aeronave. Os dois aviões se chocaram a 37 mil pés.

- Houve uma indução de que o avião estava no nível 360 (36 mil pés), tanto que ele (controlador) passou para o substituto dele e passou para Manaus que o avião estava a 360. Ele não tinha sombra de dúvida de que o avião estava a 360 - disse.

Bueno, logo na seqüência, mudou um pouco o discurso para também deixar dúvidas sobre a atuação dos pilotos do Legacy, que levavam a aeronave, nova, para uma empresa americana:

- Agora, eu não posso afirmar por que o avião não falava e o transponder não funcionava, se dois minutos depois do acidente o transponder passou a passar todas as identificações, e passou a falar também.

O Comandante da Aeronáutica disse ainda que se certificou de que não havia nenhum "buraco negro" - local sem comunicação ou visualização por radar - na rota em que houve a colisão das duas aeronaves.

- Mandei uma aeronave voar por todo o Brasil para saber se havia algum buraco negro, mas todas as freqüências estão funcionando. Para nós não houve falha de equipamento. Foi uma série de casualidades que aconteceram - disse.

O ministro da Defesa, Waldir Pires, entretanto, foi mais cauteloso. Ele disse que a torre de São José dos Campos deu uma orientação "inadequada" de que o Legacy, da empresa americana ExcelAire, decolasse e mantivesse os 37 mil até a proa de Manaus. No entanto, ele eximiu o controle aéreo de ser o único responsável pelo choque:

- Não dá para fazer a presunção definitiva de que foi o controle. Talvez, o avião desligou ou manteve em stand-by o transponder.

Questionados pelo senador Heráclito Fortes (PFL-PI) sobre uma eventual falha no sistema de controle aéreo do Brasil, que deveria fiscalizar não só os vôos civis mas também aeronaves ilegais e, nesses casos, fazer uma intercepção mais efetiva das aeronaves, o chefe do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea), major-brigadeiro Paulo Roberto Vilarinho, foi evasivo:

- Fiquei tão estupefato quanto o senhor, era impossível acontecer uma coisa dessas (o acidente).

Fokker 100 da TAM faz pouso forçado em Cuiabá

Um Fokker 100 da TAM, com 103 passageiros, fez ontem à tarde um pouso forçado no Aeroporto Marechal Rondon, na região metropolitana de Cuiabá, minutos após a decolagem. O vôo das 17h30m tinha como destino São Paulo, com escala em Campo Grande (MS). Segundo a Infraero, houve o rompimento de uma mangueira no sistema de freio hidráulico, o que obrigou o piloto a retornar ao aeroporto. Após o pouso, o Fokker 100 precisou ser rebocado.

Embora não tenha havido explosão ou fogo, homens do Corpo de Bombeiros chegaram a entrar na pista com equipamentos contra incêndio. Na saída, passageiros se mostraram bastante nervosos. A TAM os acomodou em outros vôos.

COLABOROU Anselmo Carvalho Pinto, de Cuiabá