Título: PT de volta ao poder
Autor: Bernardo Mello Franco
Fonte: O Globo, 22/11/2006, Rio, p. 14

Partido aprova Minc e Benedita para governo de Cabral e já discute divisão dos cargos de confiança

Numa reunião tensa, com mais de duas horas de duração, a executiva regional do PT aprovou ontem a nomeação do deputado estadual Carlos Minc e da ex-governadora Benedita da Silva para o secretariado do governo Sérgio Cabral. Minc assumirá a pasta do Meio Ambiente, e Benedita ficará com a Ação Social, que deve incorporar a Secretaria de Direitos Humanos. A dupla deve ser anunciada hoje oficialmente pelo governador eleito. A participação do PT na gestão do peemedebista foi aprovada por 11 votos a oito. Até o fim da reunião, o candidato derrotado do partido ao Palácio Guanabara, Vladimir Palmeira, tentou adiar a decisão para semana que vem. Ele afirmou que Cabral não ouviu o PT antes de convidar Minc e Benedita para o secretariado.

- O governador impôs os nomes sem consultar o partido - disse Vladimir, que ainda sonha reverter a decisão na reunião do diretório regional do PT, no próximo dia 2.

A ocupação dos cargos nas duas secretarias foi o maior motivo de polêmica entre os petistas. Cabral prometeu que as pastas seriam entregues "com a porteira fechada" - ou seja, com direito à nomeação para todos os cargos de confiança. No entanto, parte dos petistas teme que Minc e Benedita monopolizem a escolha dos integrantes, sem consultar os correligionários.

Defensor da participação do PT no governo, o presidente regional do partido, Alberto Cantalice, deixou claro que o partido não pretende aceitar interferências na montagem das equipes.

- Não vamos participar do governo Cabral como participamos do governo Garotinho, pela metade. O PT vai participar na integralidade da equipe do Minc e da equipe da Benedita - avisou o dirigente, que se referiu aos dois como secretários e disse que as pastas que eles vão ocupar estão "sucateadas".

Petistas não anunciam planos

Os futuros secretários foram mais cautelosos e evitaram anunciar projetos para as pastas que vão ocupar. Dizem que ainda precisam conversar com Cabral para definir a linha de atuação no governo. Benedita, no entanto, não disfarçou o sorriso de alívio ao fim da votação.

- Temos uma longa estrada pela frente. É uma honra poder representar o PT no governo - disse.

A nomeação de Benedita, desafeta da governadora Rosinha Garotinho e do ex-governador Anthony Garotinho, é mais um capítulo da separação anunciada entre o governador eleito e o casal. No dia 1º, em café da manhã no Palácio Laranjeiras, Cabral ouviu apelos para que não convidasse a petista para o secretariado.

Minc não quis comentar possíveis mudanças na pasta do Meio Ambiente, como a integração da Serla e da Feema. Mas já anunciou que vai levar para o governo o estilo que lhe rendeu notoriedade na Assembléia Legislativa.

- Não vou ficar sentado de gravata atrás da mesa. Já fiz muita manifestação, agora vou investir no cumpra-se - disse.

Com a adesão da dupla, a bancada do PT na Assembléia Legislativa passa a integrar a base de sustentação do novo governo. Dos seis deputados eleitos pelo partido, só Alessandro Molon anunciou que ficará independente nas votações.

Já o vice-governador eleito do Rio, Luiz Fernando Pezão, será nomeado secretário. Ele é cotado para assumir a Secretaria de Obras que Sérgio Cabral pretende criar. Pezão nega o convite, mas um aliado de Cabral contou que ele já tomou a decisão:

- Disse para o governador que posso ser útil em qualquer lugar do governo, até mesmo continuando como vice-governador - argumentou Pezão.

COLABOROU: Fábio Vasconcellos