Título: GOVERNO PRETENDE ALTERAR HORÁRIOS DAS VIAGENS
Autor: Bruno Rosa e Lino Rodrigues
Fonte: O Globo, 22/11/2006, Economia, p. 25

No Senado, controladores e empresas dizem que seus alertas sobre riscos foram negligenciados

BRASÍLIA. No dia em que o Congresso entrou no debate sobre as razões do caos nos aeroportos, que já dura mais de um mês, o governo anunciou que vai tentar alterar os horários dos vôos no país - tanto no caso dos de carreira quanto nos fretados. O anúncio foi feito na audiência pública do Senado em que o governo e a Aeronáutica foram acusados por empresas aéreas e controladores de terem sido negligentes com o sistema de tráfego aéreo. Eles afirmaram que alertam para o risco de apagão nos céus desde 2001.

O objetivo da medida, que será implantada simultaneamente à contratação de novos controladores, é alterar o uso dos aeroportos brasileiros, tentando aliviar os horários de pico. Segundo o presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Milton Zuanazzi, desde o ápice da crise dos aeroportos, no feriado de Finados, 91 vôos, de um total de 1.340 diários, já sofreram ajustes em seus horários:

- Às vezes, toda a crise começa porque em determinado setor de controle do espaço aéreo há cinco aviões a mais que o limite.

Zuanazzi afirmou que a tarefa é difícil, uma vez que os horários de pico existem não por pressão das companhias aéreas, mas pela demanda de passageiros. Ele disse que em Brasília os piores horários são entre 18h e 19h30m e entre 10h e 11h. Em São Paulo, o rush é entre 7h e 8h e 18h e 20h - horários semelhantes ao pico de movimento nos aeroportos do Rio e das demais grandes cidades.

O governo também estuda interferir de forma mais efetiva nos vôos charter, ou seja, os fretamentos de aeronaves, comuns em grandes operadoras de turismo.

O presidente da Anac disse ainda que vai discutir hoje, em reunião do Grupo de Trabalho da crise, com as companhias e a Infraero um sistema de informação mais ágil e direto para os consumidores sobre a crise nos aeroportos.

Para as empresas aéreas, no entanto, a causa dos atrasos é a falta de controladores de vôos. O presidente da TAM e do Sindicato Nacional das Empresas Aéreas (Snea), Marco Antonio Bologna, disse aos senadores que, em reunião no Conselho de Aviação Civil (Conac), em 2003, foram definidas 11 resoluções para o setor, entre as quais, a contratação de mais controladores.

O Comando da Aeronáutica estuda criar três novas pontes aéreas no Brasil (Rio e Belo Horizonte, Rio e Porto Seguro, e Belo Horizonte e Brasília). As rotas diferenciadas poderiam ajudar a aliviar a crise dos aeroportos. Também está em estudo a transferência de algumas áreas hoje controladas pelo Cindacta 1 (Brasília).

Ontem, na audiência pública no Senado, o chefe do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DCEA), major-brigadeiro Paulo Roberto Vilarinho, também confirmou o estudo das mudanças. A proposta é repetir nestas rotas o que há na ponte Rio-São Paulo, que funciona como uma via expressa.