Título: GÁS, COMBUSTÍVEL DA DISCÓRDIA NO CEARÁ
Autor: Ramona Ordoñez/Martha Beck/Isabela Martin
Fonte: O Globo, 22/11/2006, Economia, p. 25

Governador eleito recorre à Fazenda para resolver impasse com a Petrobras

BRASÍLIA, RIO e FORTALEZA. O governador eleito do Ceará, Cid Gomes (PSB-CE), buscou ajuda ontem no Ministério da Fazenda para solucionar um impasse com a Petrobras. A Companhia Vale do Rio Doce e outras duas empresas, a sul-coreana Dongkuk Steel e a italiana Danieli, começaram a construir no estado uma siderúrgica que deveria ser abastecida com gás da estatal a partir de 2008. No entanto, segundo Gomes, a Petrobras estaria se negando a cumprir o acordo e não teria decidido a origem do combustível, se nacional ou importado.

O diretor de Gás e Energia da Petrobras, Ildo Sauer, afirmou que a estatal continua disposta a fornecer o gás. Segundo ele, o problema é que os preços de venda estão defasados e causariam prejuízos à estatal:

- A Petrobras não voltou atrás. Os custos de produção do gás e dos gasodutos aumentaram muito desde 2003 e, por isso, é preciso negociar.

Segundo Sauer, o protocolo de intenções foi assinado em 1996 e sofreu diversas modificações. Sauer disse que, em 15 de agosto, a Petrobras informou aos sócios do projeto a necessidade de rever os preços. Ontem, houve uma reunião entre os técnicos da Petrobras e os representantes da siderúrgica.

Já Gomes afirmou que o problema ainda não atrasou o investimento, que chega a US$760 milhões e deverá gerar 10 mil empregos, mas isso poderá ocorrer caso não haja solução. Mantega ligou para o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli. O dirigente da estatal acertou com o ministro que falará com o governador eleito assim que retornar de viagem.

O secretário de Desenvolvimento Econômico do Ceará, Régis Dias, acusa a Petrobras de agir como Evo Morales, o presidente da Bolívia que decidiu expropriar empresas e reservas de petróleo e gás.

O preço da comercialização do gás para o Ceará foi fixado em US$2,44 por milhão de BTUs na assinatura do protocolo, em 1996. Só que o mercado mudou drasticamente, e hoje essa cotação é menos da metade do valor do combustível boliviano (US$5,70), que Morales luta para reajustar.