Título: 'A oposição confundiu conciliação com fraqueza'
Autor:
Fonte: O Globo, 22/11/2006, O Mundo, p. 29
A morte de Pierre Gemayel pode lançar o Líbano num período de instabilidade política, no qual assassinatos seriam usados como uma "arma legal" para derrubar o governo. A afirmação é do brasileiro Carlos Eddé, representante de uma das principais dinastias políticas libanesas (seu avô Émile foi presidente e premier), e líder do Bloco Nacional Libanês, um dos partidos anti-Síria do Parlamento.
O que o assassinato de Pierre Gemayel pode significar para a estabilidade política do Líbano?
CARLOS EDDÉ: É um elemento extremamente desestabilizador. Já havia uma tensão entre os dois campos, o que chamamos de independentistas e o grupo pró-sírio, que é extremamente poderoso e financiado pelo Irã. Um artigo da Constituição faz com que o quórum do governo seja quebrado se um determinado número de ministros deixar o governo. Nos foi avisado que havia um risco para ministros. Recentemente um dos líderes pró-Síria no Parlamento ameaçou usar vários meios e nos surpreender para derrubar o Ministério. Será que esta não era a surpresa anunciada?
O BNL acusa a Síria de ser responsável pelo assassinato?
EDDÉ: O bloco e a nossa coalizão não têm dúvidas em relação a isso. A arrogância do assassinato foi enorme. Foi feito numa região cristã, à luz do dia, numa área populosa. Hoje pela manhã, informantes de integrantes de nossa coalizão afirmaram que um ministro seria assassinado. Mas não imaginamos que isso ocorreria tão rapidamente.
Ainda é possível algum tipo de negociação com a oposição?
EDDÉ: Há algum tempo, a coalizão, que é majoritária, num gesto de boa vontade convidou a minoria para negociar para evitar problemas. Eles confundiram conciliação com fraqueza. Usam de linguagem violenta e provocações. Chegou a hora de traçar um limite. É um diálogo de surdos. Os objetivos são opostos. Uns querem um modelo totalitário no estilo sírio, outros um modelo teocrático iraniano. Outros querem a legalidade internacional.