Título: NO BRASIL, DOENÇA AVANÇA ENTRE OS MAIS VELHOS
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Fonte: O Globo, 22/11/2006, Ciência e Vida, p. 34

O maior aumento do número de casos é registrado na população acima dos 40 anos

BRASÍLIA. A Aids avança na população acima de 40 anos, revela o Boletim Epidemiológico 2006, divulgado ontem pelo Ministério da Saúde. Ao comparar dados dos últimos dez anos no Brasil, o levantamento mostra que a doença cresce entre as mulheres, mas cai entre os homens de 13 a 39 anos. No ano passado, 33.100 pessoas foram infectadas no país pelo vírus HIV.

Em 1996, a taxa de incidência de Aids entre homens com mais de 60 anos era de 5,9 casos para cada 100 mil habitantes. Em 2005, subiu para 8,8. Entre as mulheres da mesma faixa etária, a taxa aumentou de 1,7 para 4,6 no mesmo período. Salto ainda maior ocorreu entre as pessoas na faixa dos 50. No caso dos homens de 50 a 59 anos, a incidência da doença subiu de 18,2 para 29,8, de 1996 a 2005; entre as mulheres, de 6 para 17,3.

A diretora do Programa Nacional de DST/Aids do Ministério da Saúde, Mariângela Simão, disse que o advento do Viagra e de outros remédios contra a impotência masculina intensificaram a vida sexual da população mais velha. O que torna esse público vulnerável, segundo ela, é que se trata de uma geração que começou sua vida sexual quando a Aids ainda não existia. Daí, a resistência a usar preservativos e, conseqüentemente, a maior exposição ao HIV.

- Quanto mais velho, menor o uso de preservativo - afirmou Mariângela.

Ela lembrou que uma pessoa infectada pelo HIV pode ficar cerca de dez anos sem apresentar sintomas. Por isso, uma das estratégias do governo para combater a doença é facilitar o acesso aos exames de HIV. A diretora acha que parte dos idosos que agora estão sendo diagnosticados pode ter contraído a doença em outra fase da vida.

O boletim informa que 183 mil pessoas já morreram de Aids no Brasil, de 1980 a 2005, ano em que a doença provocou 11 mil óbitos. De 1980 a junho deste ano, 433 mil pessoas contraíram o HIV. Como parte da população contaminada não sabe que é portadora do vírus, o Ministério da Saúde estima em 600 mil o número total de infectados.

Entre os homens, cresce a proporção de heterossexuais contaminados: eles já representavam 44,2% no ano passado, contra 22,5% em 1996.

O boletim mostra que caiu em 51,5%, de 1996 a 2005, a chamada transmissão vertical, em que a mãe passa o vírus para o filho durante a gestação, o parto ou a amamentação. Houve queda também de 71% nos casos entre usuários de drogas injetáveis: em 1996, 4.852 doentes notificados, contra 1.418 em 2005.

Entre os homens de 40 a 49 anos, a taxa de incidência de Aids subiu de 38,7 para 51,7, de 1996 a 2005. Na faixa de 25 a 29 anos, caiu de 54 para 35; de 20 a 24 anos, a queda foi de 19,2 para 13,3; de 13 a 19 anos, houve redução de 2 para 1,4. Entre as mulheres, os índices subiram.

O ministério descarta a possibilidade de fazer campanha específica para o público da terceira idade, pois entende que o uso de preservativos deve ser estimulado em todas as faixas etárias. Os três grupos preferenciais das ações de prevenção continuam sendo os homossexuais, os profissionais do sexo e os usuários de drogas injetáveis.