Título: MORTE DE DANIEL FOI CRIME COMUM, REAFIRMA POLÍCIA
Autor: Ricardo Galhardo
Fonte: O Globo, 23/11/2006, O País, p. 5

Inquérito foi reaberto e, mais uma vez, rejeitada tese de crime político defendida pelos promotores

SÃO PAULO. O assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel (PT), em janeiro de 2002, não foi crime político. Essa é a conclusão da delegada Elisabete Sato, designada pela polícia paulista para comandar as investigações do caso. O inquérito, que sempre apontou para a tese de crime comum, foi reaberto a pedido dos irmãos da vítima, ano passado, e teve a mesma conclusão, a de crime de ocasião.

O relatório foi apresentado à Justiça em outubro passado e deixou os promotores de Santo André indignados. O Ministério Público Estadual denunciou o amigo do prefeito, o empresário Sérgio Gomes da Silva, conhecido como Sombra, que estava com o petista no dia do seqüestro, como mandante. Para a promotoria, Silva ordenou o assassinato porque Daniel teria dado fim a um esquema de arrecadação de propina de empresas de ônibus da cidade que beneficiava o empresário.

A delegada e os promotores de Santo André atuaram juntos na nova investigação, mas chegaram a conclusões diferentes. Sato interrogou os sete envolvidos no seqüestro e morte do prefeito.

- Os presos ratificaram suas confissões anteriores (de que Daniel fora escolhido aleatoriamente) gerando um ou outro detalhe que em nada alterou a dinâmica do evento - diz a policial no relatório.

Para a delegada, a única versão nova dá conta de que o menor L., com 17 anos à época, não disparou os tiros contra Daniel. Foi o chefe do grupo, José Edson da Silva, quem executou o prefeito.

- Os testemunhos trazidos nesta segunda fase ratificaram as participações dos indivíduos indiciados no primeiro inquérito, alguns até trouxeram suspeita aqui ou acolá sobre eventual crime político; todavia, suspeita sem a devida prova equivale a quase nada - declarou a delegada numa das cinco páginas do relatório.

O relatório salienta que Elcyd Brito, o John, único dos sete acusados que apontou Silva como mandante, voltou atrás na acusação, além de ter escrito uma carta em que cobraria R$1 milhão do amigo do prefeito.

- Suas declarações ficaram desprovidas de crédito - relatou a delegada.

O promotor de Justiça Amaro Thomé Filho disse que a delegada foi precipitada, fez apenas seis das 15 diligências pedidas e deixou de ouvir testemunhas.

- Estávamos aguardando que a Justiça apreciasse a quebra de sigilo de telefones de várias pessoas investigadas. Ela encerrou a investigação antes que isso ocorresse.