Título: PMDB ACERTA COM LULA PARTICIPAÇÃO NO GOVERNO
Autor: Luiza Damé e Adriana Vasconcelos
Fonte: O Globo, 23/11/2006, O País, p. 9

Executiva se reúne na próxima semana para selar acordo; cargos dependerão das eleições para Mesas do Congresso

BRASÍLIA. O PMDB está pronto para desembarcar, em sua maioria, no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a partir de janeiro. Depois de quase duas horas de reunião ontem no Palácio do Planalto, o presidente do PMDB, Michel Temer, anunciou a convocação da executiva nacional e do conselho político do partido, na próxima semana, para aprovar a participação no governo. Os cargos que o partido terá dependerão da composição entre os aliados na eleição dos novos presidentes da Câmara e do Senado.

No fim do encontro, Temer negou que o partido vá participar do governo de coalizão em troca de ministérios e cargos federais. Disse que o apoio se dará em razão do comprometimento de Lula com projetos para o país. O governo cobrou do PMDB a garantia de pelo menos 80% dos votos da bancada nos projetos de seu interesse:

- Não houve conversa referente a ministérios, a cargos. Nossa concepção é que, em face de projetos a serem executados e a critério do presidente, se for o caso, para execução desses projetos e como conseqüência deles, o chamamento do PMDB para ajudá-lo poderá ou não importar em ministérios e cargos. A seqüência disso pode ser a participação no governo, mas isso não reivindicamos. Pode ser um momento posterior e por provocação do presidente.

Tarso diz que diálogo com oposição não é incorporação

No fim do encontro, o ex-governador Orestes Quércia, que acompanhou Temer, confirmou a disposição de Lula de só definir a reforma ministerial depois de decididas as eleições das Mesas da Câmara e do Senado.

Lula apresentou o documento Agenda Mínima de Coalizão, que inclui as reformas política e tributária, fala de política econômica, comprometida com o crescimento mínimo de 5% nos próximos quatro anos, e da criação de um conselho político pelos partidos governistas. Sinaliza ainda com a renegociação das dívidas dos estados.

Diante da cobrança de unidade dos aliados nas votações, Temer explicou que os senadores Almeida Lima (SE), Garibaldi Alves Filho (RN), Jarbas Vasconcelos (PE), Mão Santa (PI), Geraldo Mesquita (AC) e Joaquim Roriz (DF), que decidiram não aderir, não farão oposição radical. Segundo Temer, a maioria do partido, incluindo os sete governadores eleitos do PMDB, quer participar do governo Lula.

- Vamos trazer o PMDB para esta coalizão. Não tenho o percentual, mas podemos dizer que uma amplíssima maioria está disposta a isso - afirmou Temer, que na eleição apoiou o tucano Geraldo Alckmin.

O ministro de Relações Institucionais, Tarso Genro, reconheceu que o processo de formação de um governo de coalizão é difícil, mas disse estar otimista em relação à ampliação do arco de apoio ao presidente. Tarso dá como praticamente fechada a participação do PMDB, além de PT, PSB e PCdoB. Segundo ele, as negociações devem continuar até a primeira semana de dezembro e, depois, Lula anunciará o novo Ministério.

- Vamos ter, daqui a uns 30 dias, uma visão mais clara de quais partidos vão participar do governo de coalizão e, a partir daí, o presidente já vai elaborando na sua cabeça e discutindo a formação do seu Ministério num tempo ainda não definido.

Tarso comentou o encontro de Lula com o PMDB:

- Temos convicção de que o PMDB vai participar. Temos a informação de que o PV já fez uma reunião e deseja participar. Temos reunião marcada com PDT. Sabemos que PP e PL estão discutindo, mas não têm uma posição definida - relatou.

Tarso confirmou que Lula pretende conversar com os partidos de oposição, mas que não serão chamados a integrar o governo:

- Não há hipótese. Não é um governo de união nacional, que engloba todas as forças políticas para responder a uma catástrofe ou a uma guerra. Um governo de coalizão reúne uma maioria estável para governar com a mínima estabilidade e cumprir um programa mínimo. Em relação à oposição, vamos buscar um diálogo político em cima da reforma política. Isso não significa dissolver as fronteiras entre oposição e governo. Muito menos qualquer incorporação. Seria uma ofensa para a oposição oferecermos participação no governo, o que estaria descaracterizando seu papel.