Título: PLANALTO DISCUTE CASO PETROBRAS
Autor: Adriana Vasconcelos/Chico de Gois
Fonte: O Globo, 23/11/2006, O País, p. 10

Líder: só não se pode supor irregular todo repasse da Petrobras a ONGs

BRASÍLIA e SÃO PAULO. O líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), disse ontem que, se forem constatadas irregularidades no repasse de recursos da Petrobras para ONGs, o convênio será cancelado. Para Chinaglia, no entanto, não se pode partir do pressuposto de que todos os convênios assinados pela estatal com as ONGs são irregulares e se criminalizar esse tipo de organização.

- Não criminalizamos as ONGs. Não inventamos as ONGs. E os valores usados em 2005 pela Petrobras para repasse às ONGs são um pouco menores que em 2002, para comparar com o governo passado. Se tiver qualquer irregularidade, problema de gestão, desvio, a ONG perderá o convênio. O que não se pode é partir do pressuposto de que um convênio é necessariamente criminoso.

Chinaglia e o líder do PT na Câmara, Henrique Fontana (RS), participaram ontem de reunião no Palácio do Planalto com os ministros Tarso Genro (Relações Institucionais), Luiz Dulci (Secretaria Geral) e Márcio Thomaz Bastos (Justiça), e entre os temas do encontro estavam as denúncias de irregularidades envolvendo o repasse de recursos da Petrobras para ONGs, denunciados pelo GLOBO domingo. Para Fontana, há distorção na forma como está sendo abordada a questão dos convênios da Petrobras com as ONGs:

- A Petrobras é uma das maiores patrocinadores do país, e obviamente há uma multiplicidade de pessoas e entidades que recebem patrocínio que são ou não filiadas a partidos. Temos que olhar se há irregularidades e corrigir os problemas.

Fontana: oposição usa lógica de obstrução do Legislativo

Segundo Fontana, ao defender a instalação de uma CPI para investigar os contratos com ONGs, a oposição mantém a lógica de obstruir os trabalhos do Legislativo:

- O país já está cansado da lógica da oposição de transformar as CPIs em objeto de obstrução do Legislativo.

O diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, disse que as notícias veiculadas sobre irregularidades na destinação de verbas da estatal foram distorcidas. Segundo ele, o Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural (Prominp), que recebeu dinheiro da Abemi, é um projeto extraordinário.

- Quando a gente faz um programa desses, dessa intensidade, somos mal-interpretados. Isso me deixa muito chateado e, obviamente, o Gabrielli (presidente da estatal) está chateado - disse.

Heráclito refuta Gabrielli

Senador pediu CPI antes de denúncias

BRASÍLIA. O senador Heráclito Fortes (PFL-PI), autor do requerimento para instalação da CPI das ONGs, condenou a tentativa do presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, de vincular a reportagem do GLOBO sobre irregularidades no repasse de recursos da empresa a ONGs à sua proposta:

-- O senhor Gabrielli está mal-informado. Apresentei a intenção de protocolar esta CPI em agosto ou setembro.

Em entrevista coletiva anteontem, Gabrielli insinuou que o jornal e Heráclito estavam atuando conjuntamente com o objetivo de prejudicar a Petrobras.

-- Esses fatos me eram desconhecidos -- disse, em relação às reportagens do GLOBO. - E não me venha ele querer me conferir o dom da premonição.

Senadores da oposição se revezaram na tribuna para protestar contra a atitude de Gabrielli, que na coletiva convocada pela estatal para explicar os investimentos em ONGs controladas por petistas, irritou-se com a imprensa e disse que o repórter do GLOBO não era bem-vindo.

Para o senador José Jorge (PFL-PE), todo gasto público tem de ser justificado, não importando o montante.