Título: SERRA DIZ QUE PSDB ESTÁ DISPOSTO AO DIÁLOGO
Autor: Adriana Vasconcelos/Chico de Gois
Fonte: O Globo, 23/11/2006, O País, p. 10

'O partido é de oposição e vai continuar assim, mas não vai ser negativa, do quanto pior melhor', diz tucano

BRASÍLIA. O governador eleito de São Paulo, José Serra (PSDB), defendeu ontem que seu partido faça oposição ao governo do presidente Lula, mas não uma oposição negativa.

- Em política a gente deve sempre procurar atender o interesse público. O PSDB é de oposição e vai continuar assim. Mas não vai ser negativa, do quanto pior melhor. Essa não é nossa história e não vamos mudar -- disse Serra, após participar de uma reunião com a bancada paulista da Câmara para discutir a inclusão de emendas de interesse do governo e da prefeitura de São Paulo no Orçamento de 2007 da União.

Já Tasso faz pesados ataques

Serra evitou comentar o encontro entre Lula e o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM). No fim de semana, o líder tucano pegou carona no avião presidencial depois de participar dos funerais do senador Ramez Tebet (PMDB), no Mato Grosso do Sul. E afirmou que seu partido aceita discutir o país com Lula.

-- Foi um encontro. Só isso - disse o governador eleito de São Paulo.

O tucano disse que seu partido está disposto ao diálogo com o governo federal, mas espera por propostas.

- Tendo propostas concretas, o PSDB vai se manifestar. Cabe ao governo apresentar as propostas - disse ele.

Em meio aos rumores de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretende convidar o presidente nacional do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), para uma conversa formal, a bancada tucana no Senado se reuniu ontem para rediscutir seu papel na oposição. No fim do dia, Tasso estava na tribuna atacando o presidente Lula e ações de seu governo. Mais cedo, após longa reunião com outros tucanos, Tasso deixou claro que as margens para uma negociação com o governo federal são pequenas, ao anunciar a disposição do PSDB de obstruir a votação do Orçamento da União para 2007, caso não haja um acordo mínimo sobre a aprovação e a execução das emendas individuais dos parlamentares.

O tom do discurso de Tasso subiu depois que ele tomou conhecimento do impasse criado entre a Petrobras e investidores estrangeiros responsáveis pela construção de uma siderúrgica no Ceará, o que poderá inviabilizar o projeto:

- Com todo respeito, mas se essa notícia não for mais bem esclarecida até semana que vem, serei obrigado a vir aqui e dizer que o presidente Lula é um mentiroso, é um farsante, é uma das maiores farsas que este país já teve. E está fazendo com o povo pobre do Ceará uma montagem e uma mentira que um homem público não poderia fazer nunca neste país.

Tasso também não poupou o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, que teria comunicado ao consórcio ítalo-coreano a suspensão do acordo para fornecimento do gás que seria fornecido pela estatal a partir de 2008.

- O senhor Gabrielli demonstrou ser, nos últimos meses, um verdadeiro tirano, arbitrário, dentro daquela instituição, usando os recursos públicos para promover organizações ligadas ao PT, e tomando decisões pessoais sem nenhum critério técnico, favorecendo ou desfavorecendo a quem quer que seja. Agora esse senhor, que tem se revelado autoritário e violento com a imprensa, não aceita críticas dela e reage usando todo o poder que a Petrobras lhe dá.

Na próxima semana, o senador Sérgio Guerra (PSDB-PE) deverá apresentar um documento estabelecendo as condições dos tucanos para votar o Orçamento do próximo ano. Com vários parlamentares em fim de mandato, com a aprovação do aumento do valor das emendas individuais de R$5 milhões para R$6 milhões sem qualquer regra e sem a aprovação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), os tucanos temem que novos escândalos, como o dos sanguessugas, se repitam.

A idéia do PSDB é estabelecer imediatamente critérios mínimos para a aprovação e liberação das emendas de parlamentares. A médio e longo prazo, o partido deverá propor até mesmo a extinção da Comissão Mista de Orçamento.