Título: ELETROBRÁS PODE SER A PETROBRAS DO SETOR ELÉTRICO
Autor: Martha Beck/Gerson Camarotti
Fonte: O Globo, 23/11/2006, Economia, p. 29

Presidente pretende autorizar que a estatal de energia seja autorizada a captar recursos no exterior para investir

BRASÍLIA. O aumento dos investimentos em energia e saneamento dominou ontem as discussões do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com a equipe econômica para tratar da área de infra-estrutura. Segundo o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, Lula determinou que sejam encontradas formas de permitir que a Eletrobrás capte mais recursos, até no mercado externo, passando pela venda de ações excedentes ao controle da União.

O presidente também pediu soluções para que estados, municípios e Caixa Econômica invistam mais em saneamento. Já o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que algumas medidas do pacote fiscal podem ser anunciadas hoje.

- O presidente acha que a Eletrobrás tem que ser a Petrobras do setor elétrico - afirmou Bernardo.

Segundo ele, a Eletrobrás tem hoje mais limitações que a Petrobras para captar recursos e não pode obtê-los no exterior. Uma solução seria aumentar a oferta de ações por meio de sociedades de propósito específico.

Do lado do saneamento, segundo ele, uma das idéias cogitadas seria incluir esse tipo de gastos no Projeto-Piloto de Investimentos (PPI), como antecipou o GLOBO. Também existe a possibilidade de mudar o limite que a Caixa Econômica pode aplicar em saneamento.

União deve aumentar recursos para saneamento

No caso de estados e municípios, a idéia é elevar o volume de recursos da União aplicados em saneamento, mas sem mudanças na Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF).

- Nos dispomos a colocar dinheiro do FGTS e do Orçamento para saneamento, mas combinando com gestores dos empreendimentos. Vamos ver qual é a situação de cada empresa e as alternativas - disse o ministro, destacando que o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) também tem US$800 milhões para esses projetos.

O presidente Lula cancelou ontem toda a sua agenda para participar da reunião. Ele está discutindo com os ministros da área como deslanchar os projetos prioritários. Segundo um participante da reunião, o presidente assumiu o papel de gerente do governo nessa área.

Ele relatou a petistas com os quais manteve conversa reservada, esta semana, que continua insatisfeito com as propostas que tem recebido da área econômica para promover o desenvolvimento sustentado do país. Semana passada, Lula cobrou ousadia dos ministros envolvidos na elaboração do pacote fiscal e de desoneração, que continua classificando como pífio, inconsistente e insuficiente para a guinada que pretende dar na economia.

Irritado com o fraco desempenho do PIB, Lula tem cobrado muito de ministros e assessores soluções práticas. Sua queixa é a falta de um projeto econômico para o Brasil que não tenha implicações para a estabilidade. Ele gostaria de fazer de uma ação neste sentido uma espécie de "Bolsa Família" do segundo mandato.

COLABORARAM Eliane Oliveira e Regina Alvarez