Título: POLÍTICOS TURCOS FOGEM DE BENTO XVI
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Fonte: O Globo, 23/11/2006, O Mundo, p. 33

Premier evita encontro com Pontífice temendo repercussão em eleições

ISTAMBUL. A visita do Papa Bento XVI à Turquia é uma oportunidade para que o país de maioria muçulmana, oficialmente secular, mostre aos céticos da União Européia que é uma sociedade aberta que merece entrar no bloco. Porém, intelectuais turcos afirmam que o primeiro-ministro Tayyip Erdogan, um muçulmano devoto, optou por fazer cálculos políticos de curto prazo e preferiu evitar um encontro com o Pontífice.

A decisão sobre a entrada da Turquia na União Européia deverá ser tomada dentro de dez ou até 15 anos, enquanto Erdogan e seu partido islâmico moderado enfrentarão eleições presidenciais e parlamentares ano que vem. Críticos do premier afirmam que ele parece estar mais preocupado em impressionar nacionalistas e fundamentalistas islâmicos em seu país do que conquistar a simpatia da opinião pública européia.

- Este país tem uma fixação no cristianismo - disse Semih Idiz, editor de diplomacia da rede de TV CNN na Turquia. - Os nacionalistas ainda acreditam que resgataram a Anatólia (parte asiática da Turquia) da Cristandade.

Uma demonstração de que os votos de islâmicos conservadores podem contar poderá ser vista neste domingo, quando o Partido da Alegria, fundamentalista, fará uma grande manifestação em Istambul.

- O Partido Justiça e Desenvolvimento (legenda islâmica moderada que está no governo) está preocupado com o fato de conservadores poderem acusá-lo de não ser realmente um partido muçulmano. E dizer que ele está vendendo a Turquia para a UE e que é amigo do Papa - disse Mehmet Ali Birand, um analista político turco.

No principal jornal turco, o "Hurriet", Mehmet Yilmaz ironizou o modo como os políticos turcos, que costumam valorizar o diálogo inter-religioso, estão encontrando desculpas para evitar o Papa depois que ele fez declarações consideradas ofensivas ao profeta islâmico Maomé.

- Chego a me perguntar se o Papa tem alguma doença contagiosa, brincou Yilmaz.

O premier Erdogan afirmou que não poderá receber o Pontífice pois não pode deixar de comparecer a um encontro da Otan na Letônia. O ministro do Exterior, Abdullah Gül, estará num encontro de países europeus e mediterrâneos na Finlândia. Até mesmo o prefeito de Istambul disse que sua agenda não permitirá um encontro com o Papa.