Título: MUÇULMANOS CONTRA VISITA DO PAPA
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Fonte: O Globo, 23/11/2006, O Mundo, p. 33
Quarenta manifestantes são presos na Turquia após invasão de museu
ISTAMBUL
Seis dias antes da visita do Papa Bento XVI à Turquia, um grupo de 120 pessoas invadiu o museu de Santa Sofia em Istambul, que já foi a principal igreja do Império Bizantino, para fazer orações islâmicas e protestar contra a viagem do Pontífice. O ato na maior cidade da Turquia aumentou a já grande tensão que cerca a visita do Papa, que será feita dois meses depois de ele citar um imperador bizantino que disse que o profeta muçulmano Maomé só "trouxe coisas más e desumanas".
A agenda de Bento XVI inclui uma visita ao local, que foi a maior catedral católica por séculos, se tornou uma igreja cristã ortodoxa, foi transformada em mesquita com a tomada de Constantinopla pelo Império Turco Otomano em 1453, e, finalmente, transformada em museu em 1935.
- Deus é grande - gritaram os invasores. - Não cometa um erro, Papa! Não teste a nossa paciência!
Os invasores entraram no museu como se fossem turistas e passaram a protestar. A polícia tirou visitantes do local e dominou o grupo. Foram presas 40 pessoas. Ninguém se feriu na ação.
Imagens do grupo exibidas pela TV turca mostraram que os manifestantes levavam faixas do Alperen Ocaklari, grupo islâmico ultranacionalista. O Alperen é considerado uma cisão dos Lobos Cinzas, grupo de extrema-direita turco da década de 1970. Ali Agca, que atirou em João Paulo II em 1981, era membro dos Lobos Cinzas.
O porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, afirmou que o protesto não preocupava a Santa Sé.
- São fatos isolados e limitados que não alteram o clima da visita do Papa, que, prevemos, transcorrerá de forma tranqüila - disse Lombardi, que, porém, acrescentou: - Não é uma surpresa que existam grupos contrários à visita de Bento XVI.
Pontífice contrário ao país na UE
O Pontífice deve chegar à Turquia no dia 28 para uma visita de quatro dias. A viagem do líder católico ao país de maioria muçulmana vem provocando polêmica desde que foi anunciada.
Antes mesmo de ser eleito Papa, o então cardeal alemão Joseph Ratzinger não gozava de grande simpatia no país, depois de afirmar publicamente ser contrário à entrada do país islâmico na União Européia cristã. As declarações polêmicas de setembro tornaram a visita da semana que vem ainda mais delicada.
Um grande protesto contra a iminente chegada do Papa deverá ocorrer domingo. O Partido da Alegria, fundamentalista islâmico, convocou uma manifestação em Istambul, e anunciou que levará pelo menos 75 mil pessoas do interior para a cidade. São esperadas mais de cem mil pessoas na manifestação.