Título: VIOLÊNCIA MATA 120 POR DIA NO IRAQUE
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Fonte: O Globo, 23/11/2006, O Mundo, p. 34

ONU diz que 100 mil pessoas fogem do país por mês e que outubro foi o período mais sangrento

BAGDÁ. Uma mistura explosiva de violência sectária, de ataques de insurgentes, e de crimes de gangues fez com que outubro fosse o mês mais sangrento para os civis do Iraque desde a invasão do país, em março de 2003. Segundo um relatório da ONU divulgado ontem em Bagdá, foram mortas 3.709 pessoas, uma média de 120 por dia.

O documento também aponta um processo de migração forçada pela violência de grandes proporções, que está modificando a estrutura demográfica do país: 420 mil pessoas fugiram de suas casas desde fevereiro, quando uma mesquita xiita foi atacada. Além destes deslocados internos, quase cem mil pessoas têm fugido do Iraque por mês, emigrando para Síria e Jordânia.

"A população civil do Iraque continua a ser vítima de atos terroristas, bombas, tiros de carros em movimento, fogo cruzado entre gangues rivais ou entre policiais e insurgentes, seqüestros, operações militares, crime e abuso policial", diz o relatório.

O documento, que é divulgado a cada dois meses, afirma que em setembro, foram mortas 3.345 pessoas. Nos dois meses, 7.054 pessoas morreram de forma violenta, e 70% destes crimes ocorreram em Bagdá - onde ontem foram encontrados 14 corpos. Até agora, o mês mais violento fora julho deste ano, quando morreram 3.590 civis.

Reino Unido pode tirar tropas de Basra ano que vem

O relatório aponta também outro problema: grande parte do crescimento da violência parte da própria força policial, infiltrada por grupos sectários ou criminosos.

"Há cada vez mais relatos de milícias e esquadrões da morte operando de dentro da força policial, ou com a sua conivência. Elas (as forças de segurança) estão sendo cada vez mais acusadas de seqüestros, tortura, assassinatos, suborno, extorsão e roubo", diz o relatório da ONU.

Ontem, a ministra das Relações Exteriores do Reino Unido, Margaret Beckett, anunciou que as forças britânicas podem entregar a responsabilidade pela segurança da região de Basra para a polícia iraquiana na primeira metade do ano que vem.

- O progresso de nossa operação atual em Basra nos dá confiança de que podemos ser capazes de conseguir fazer a transição nessa província em algum momento na próxima primavera - disse Beckett, referindo-se à estação do ano que, no Hemisfério Norte, começa em março e termina em junho.

Basra, segunda maior cidade do Iraque, vem registrando um crescente nível de violência entre facções xiitas. Mas sofre relativamente menos com a violência sectária, pois sua população é praticamente toda árabe xiita. As forças britânicas, que no momento da invasão ficaram responsáveis pela segurança em quatro províncias no sul do país, já se retiraram de duas delas. Os EUA aceitam a retirada, pois soldados britânicos estão enfrentando fortes batalhas no Afeganistão, com o avanço de forças da milícia talibã.