Título: EQUADOR RUMA INDECISO PARA O 2º TURNO
Autor: Mariana Timóteo
Fonte: O Globo, 23/11/2006, O Mundo/ Ciência e Vida, p. 36

Dúvida sobre voto no domingo aflige quase um quarto do eleitorado e país se polariza entre propostas de Noboa e Correa

QUITO. Na TV e na política, é grande a indecisão dos equatorianos. Se as novelas brasileiras "América" (TV Globo) e "Prova de Amor" (Record) provocam uma briga pela liderança na audiência do horário nobre entre a Ecuavisa e a TeleAmazonas, na política a disputa é para ver quem vai liderar o país nos próximos quatro anos: o populista de direita Álvaro Noboa ou o nacionalista de esquerda Rafael Correa. Os dois passaram pelo primeiro turno das eleições presidenciais em 15 de outubro e disputam no domingo o segundo, num país que não poderia estar mais dividido.

Noboa tem 4 pontos percentuais de vantagem

Segundo as pesquisas de opinião - que pela lei só podem ser publicadas fora do Equador - Noboa (vencedor do primeiro turno com 26,83%) está com 52% das intenções de voto contra 48% de Correa, que, no primeiro turno, obteve 22,84%. Isso colocando de lado a margem de erro e o fato de que nada menos do que 22% dos consultados afirmaram ainda não saberem em quem votar. Além disso, o índice de rejeição aos dois é enorme: 35% alegam que nunca votarão em Noboa, e o mesmo percentual rejeita Correa.

- Ou seja, tudo pode acontecer. Os equatorianos estão entre os eleitores mais imprevisíveis da América Latina - diz sociólogo Paul Bonilla, da Universidade Central do Equador.

Segundo ele, esta eleição é ainda mais polarizada pelo fato de Noboa (do Prian, que ganhou a liderança do Congresso ao eleger 28 deputados em outubro) e Correa (da Aliança País, que não tem bancada na Câmara) terem propostas de governo muito distintas.

- Boa parte dos 9 milhões de equatorianos centristas só vai decidir na véspera - acredita o sociólogo.

Como já havia sido previsto, a campanha do segundo turno foi marcada por troca de acusações. Noboa, o plantador de bananas que é o homem mais rico do Equador, continuou se mostrando como a melhor alternativa para livrar o país de uma "ditadura como as de Cuba e Venezuela". Já o economista e chavista Correa atacou o caráter daquele que pratica o "capitalismo selvagem e venderá o Equador aos interesses das potências internacionais".

- Pelo menos algumas propostas foram mais bem detalhadas e Correa, que assustava a muitos com suas idéias de fechar o Congresso, moderou um pouco o tom do discurso - explica Bonilla.

Correa está numa versão light. Não fala mais em livrar o país de sua "corja política", mas sim em convocar uma Assembléia Constituinte para modificar pontos críticos na Constituição, que "dão aos partidos mais poder que ao povo". Correa promete ainda baixar as tarifas energéticas e fornecer microcréditos para que os equatorianos iniciem seus próprios negócios. Noboa acha que a liberalização da economia é a melhor saída, promete construir, com os excedentes do petróleo, 300 mil casas populares e investir no turismo, "inclusive em áreas pouco exploradas como as ilhas Galápagos" - frase que o deixou numa verdadeira saia-justa, já que as ilhas são reserva ambiental.

- Ih, acho que nas Galápagos não pode, né? - tentou corrigir-se.

Amigos divididos pelas campanhas eleitorais

Nas ruas de Quito, nota-se claramente a divisão da população. Do lado de fora de uma loja de equipamentos eletrônicos, no centro, na mesma parede estão pichadas frases contra os dois candidatos. No interior, o tema divide os amigos Diego Rivas, gerente do estabelecimento, e o jogador de futebol Luis González, do Aucas de Quito. Rivas vota em Correa por estar "cansado da podridão política que vigora há anos no país".

- Eu voto em Alvarito - rebate González, que estuda jornalismo e quer ser repórter de esportes. - Ele promete criar empregos. Tenho 33 anos, não vou jogar por muito mais tempo.